quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Indenização trabalhista

Nas reuniões não aceitava quem tivesse opinião diferente, mas não explicitava. Checava todas opções antes de emitir juízo, começava apoiando a opinião contrária e, de alguma maneira, ao final, tinha convencido todos da sua posição. Sempre apoiou e elogiou meu trabalho, mas eu não precisava ser persuadida. Eu obedeceria a todas as suas ordens, realizaria todos os seus desejos.

A marca registrada era o perfume suave, que hipnotizava. E eu sabia que exalava cheiro de mulher quando, frente-a-frente, percebia que admirava meu decote e minhas pernas. Eu não conseguia fingir indiferença. Depois da reunião entrou na minha sala, me empurrou sobre a mesa. Sem ouvir uma palavra, eu cedi, sussurrando obscenidades que nem prostitutas ousariam. Me devorou e, antes de sair, me deu a conta. Aqueles minutos sobre a mesa foram a melhor indenização que eu poderia receber.


:: 14.05.2003 :: Foto gentilmente cedida pela amiga Van Van Drozdz

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Ao mestre com carinho 2 - Um causo interessante

Quando o Newton Cesar nos pediu uns continhos para colocar na "pausa para o café" do livro dele, Tudo o que você não queria saber sobre propaganda, mandamos alguns e ele escolheu o Ao mestre com carinho, possivelmente o mais comportado. Nem sempre o cara quer baixaria (como as que a gente escreve) associada a obra de sua autoria.

Bem, eu e o Newtão temos um grande amigo em comum, o Zeca Martins, também publicitário e escritor. E o nome do Zeca é José Martins de Oliveira Filho. E nosso nome de certidão é Luiz Gustavo Martins. Resumindo, o Newtão juntou tudo, não sei se por acreditar em algum parentesco não revelado, e no livro fomos alcunhados Gustavo Martins de Oliveira.

Foi engraçado, valeu algumas risadas e comentários de boteco, mas o que vale é a homenagem. Valeu, Newtão!

Ao mestre com carinho

Em anos de magistério aprendeu bem a lidar com alunos, e que o indispensável é a disciplina. Se em toda aula eles aprendem uma lição, por bem ou por mal, é porque sabe manter sob controle os "laranjas-podres", como costuma chamar aqueles que contaminam até o aluno mais aplicado. Esses merecem castigo, pois está em sua natureza confundir liberdade com libertinagem. Pedagogias à parte, suas turmas obtêm os melhores resultados. Um dia eles reconhecem. Sexta-feira, aula tumultuada, no final da manhã uma surpresa. Recebeu emocionada a singela homenagem, um "TI AMO PROFESSORA QUERIDA" em letras irregulares traçadas com firmeza na pintura do seu carro.

:: 22.04.2003 :: Continho nosso publicado na "pausa para o café" do livro Tudo o que você não queria saber sobre propaganda, do escritor, publicitário e amigo Newton Cesar

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Dito pelo não dito

Sempre ouvi que era mal de conta. Minha mãe professora me alfabetizou antes da primeira série, só que na hora de aprender matemática a guriazinha aqui travava e escutava "êta, como essa menina é ruim de conta!" E fiquei presa no dito.

Está cheio de gente por aí presa em ditos, servientes do desejo do outro. Ouvi repetidas vezes mamãe falar "parece que você teima em fazer exatamente o contrário do que eu digo, só quero o seu bem." Ela só queria o meu bem. Mas fazer o contrário foi o que me manteve viva, mesmo sabendo que na maioria das vezes o contrário é a mesma coisa. É só o outro lado do espelho. A reação foi o caminho encontrado para me libertar do dito, o que me poupou de ser uma alienada. De resto, permaneci ruim de conta, mas boa de cama.

:: 13.05.2003 :: História contada por minha amiga Cláudia

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Na cama da minha mãe não pode

Quando os pais viajavam era a maior festa. Mal o carro virava a esquina e a namorada (ou alguma amiga mais moderninha) já estava no portão. E na época também reinava a camaradagem. O privilegiado cedia a casa para um amigo que precisasse de privacidade (leia mais)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Metamorfose

Sétimo filho, caçula de seis mulheres, não sei se de tanto benzimento mas no fim da puberdade só me transformei em tamanho, hormônios e poucos pelos. Minha lua-cheia amaldiçoadora chegou às vésperas dos trinta. E existe uma culpada — nem o anjo mais puro resistiria àquela boca de lábios carnais. Depois de compartilhar toda felicidade, receber o colo mais afetivo e toda lascívia escandalosa veio a ruptura:
..........primeiro beijei a mão
..........depois beijei o chão.
..........ela, minha lua maldita


Para piorar segui com os rituais de autocomiseração — ouvir "nossas" músicas, olhar "nossas" fotos, uivar. A lembrança digeriu minha alma pelas bordas.

Veio a noite platinada e ao invés da pelagem densa e caninos hipertrofiados amanheci velho e desdentado. A dor do grande amor perdido me privou até da coordenação motora, ando tropeçando e esbarrando em tudo (lembrou quando, na adolescência, cresci quinze centímetros num ano), cabelos brancos, enrugado, encurvado, impotente, olhos baços de catarata, hálito fedido, sem medo cuspir impropérios a quem quer que seja, o idiota maldito da noite. Senil.


(19.02.2008)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Quem resistiria a uma boca dessas?




Teaser para o post de amanhã, homenagem à lua cheia absurda e eclíptica que está no céu.

Publicitários adoram teasers. É aquela (aí vem da wikipedia) técnica usada em propaganda para chamar a atenção para um anúncio subseqüente, por intermédio de informação enigmática. Leva o público a se interrogar sobre o significado da peça, despertando curiosidade pela explicação, que só chega algum tempo depois, blá-blá-blá.

Portanto, leitoras, aguardem.

Ah, sim, falando em teaser, a boca aqui eternizada pertence a uma legítima teaser.

Redenção II



A imagem do MCP de ontem, que esquecemos de publicar. Tiramos em Olinda, num convento daqueles de mil seiscentos e pouco. A Nanda teria odiado os azulejos, pegaria uma daquelas canetas marcadoras de CD e faria suas correções.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Redenção

Nanda não foi batizada e sempre teve medo do inferno. Na infância, escolhida para daminha num casamento, ao receber as alianças escutou: "Cuidado. Se você derrubar vai para o inferno." Depois disso, o tapete vermelho pareceu uma eternidade (leia +)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Alma depilada

Ando com o olhar abobado, colocando sal demais no miojo, errando a medida do café solúvel. Como vou me tornar uma mulher séria assim? (leia mais)

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Falando no bailão, a Ritinha

- Ô cara de nada.
- Ô resto de feira.
- Ontem eu fui pra igreja.
- Tua igreja eu sei qual é. É o bailão lá da BR.
- Pois é, você devia desviar da igreja e ir no bailão de vez em quando. Melhor que padre, melhor que psicólogo.
- E o que você entende de psicólogo? Você entende de quase nada.
- Não só entendo como fui eleito vereador.
- Como vizinho você é ótimo. Como político é uma desgraça só.
- Desgraça é a Ritinha.
- Aquela de dente de caquinho? Como desgraça?
- Tava no bailão dançando.
- Ouvi falar que igual dançarina de boate. Pelo menos não se elegeu a troco disso.
- Volta e meia encontro ela na entrada do banheiro do bailão se olhando no espelho.
- Mas é uma carinha doída mesmo a que ela tem, pior se você flagrasse a Ritinha olhando a perereca no espelho.
- Então, por isso a desgraça. Ela pediu meu celular para tirar foto, disse que pra mandar para um amigo.
- E tirou?
- Não só tirou como esqueceu de apagar, uma foto da perereca.

(18.09.2007 - História contada pelo Osmar (1ª parte) e pela Fantalaranja (2ª parte)

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Frase II



"É mais fácil ensinar uma mulher a ordenhar uma vaca do que a bater uma punheta."

Pequena obra prima lapidada numa aventura elítica (etílica, para os não iniciados) na noite curitibana. Nos referindo, claro, àquela bem-bem feitinha.

Frase I


"Eu não acredito em amor. Acredito em dizer eu te amo."

Frase cometida pelo ator Roy Scheider no filme All that jazz. O ator faleceu nesta semana aos 75 anos. Não sabemos se a frase é do roteirista ou dele, mas no filme, da forma cínica como foi dita, deixou marcas. Fica como homenagem.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Carne em tormento

Muitas vezes eu quis dar, mas acontecia diferente do que eu planejava. Eu pensava demais. Com 13 anos um piá tentou me beijar, dei uma porrada nele. Entrei em outra escola e comecei a gostar de um garoto mais velho, um repetente. Chegamos às vias de fato, aos tapas, na fila do hino nacional. Gamei nele durante cinco anos.

No segundo grau eu morava sozinha e, à noite, não sei porque, batia aquela vontade louca de dar. Pensei até em pegar um desconhecido na rua, ou dar para o guardinha do Banestado que sempre encontrava no ponto de ônibus. Então vinha toda burocracia feminina: "e se fico gravida?", "vai que o cara começa a me perseguir", "ai de mim se eu pego uma doença". Resolvia com muita imaginação e dedos molhados, e dormia em paz.

Um dia, no caminho do cursinho, deliberadamente fui pela rua em que um quarentão, na porta de um hotel, repetia que me lamberia todinha. Não deixei. Comecei a estudar na biblioteca pública depois das aulas, e logo no terceiro dia um coroa pediu para eu cuidar das coisas dele. Era desculpa. Depois de repetidos e simpáticos encontros entre as prateleiras me convidou para jantar em sua casa. Imaginei como seria na cama, sua mão me tocaria de leve, me penetraria pela frente e por trás. Mas tinha a burocracia...

E nunca vou esquecer dos dias em que eu saía sem calcinha e de minissaia, me abaixava para mostrar a bunda para os velhinhos jogando damas no Passeio Público. Tem muita menina querendo dar, o problema é que os caras não percebem quando estão taradinhas, quando é só tentar que elas cedem.

(14.08.2003)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Recaída


Meu demônio geminiano deixei ir embora
Nunca mais vai me tentar
Meu anjo geminiano, com sua volatilidade inerente
Vou amar para sempre
Está no sangue


Meu anjo escorpiano, afastei de mim
Por covardia ou coragem, nunca vou saber
Meu demônio escorpiano
Este vai me atormentar pela eternidade
Eu sempre em recaída

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Frase batida

Sexo quando é ruim é bom, e quando é bom é bom demais!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Fantasia ou não, ele merecia

Ridícula, sonho e faço planos para algo que sei que não existe. Assim preencho minha mente atordoada pela solidão e subpensamentos. Ele faz o favor de se atrasar todo dia (leia mais)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Utilidade pública - Devolução de carrinhos nos supermercados

Uma das coisas mais chatas acontece quando vamos no supermercado e temos que ficar manobrando e desviando dos carrinhos largados no estacionamentos ou pelos corredores. Que o comportamento dessa senhora na foto ao lado sirva de exemplo às outras mulheres, e que a atitude dela passe a ser a forma normal de agir, de como alguém que tem um mínimo de cidadania deve proceder.

Desejo da vaidosa

Ela sabia se vestir e tinha um conjunto físico que chamava a atenção. Convivia pacificamente com uma compulsão por ter sua beleza admirada que pesava na soma da sua personalidade. Com todo respeito (leia mais)

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Mortal

Certas habilidades adquiridas no decorrer da vida não são lá muito aplicáveis na prática. Depois de muito treino aprendi a dar um salto mortal e cair de pé do outro lado (...), mas depois que começa a aparecer barba as moças deixam de achar graça (leia mais)