terça-feira, 30 de junho de 2009

À espera de um milagre

O pessoal que acompanha o blog mais a fundo já leu esta pérola nos comentários do conto Pequenas perversidades do destino. Mas não dava pra deixar de publicar esta contribuição da amiga e ousada Sweet Tox como post. A imaginação dela vai longe quando desafiada. E foi o caso. Uma delícia de réplica.

Minha última viagem de férias trouxe-me uma esperança recheada com uma desilusão.
Resolvi passear em Aracaju, devido às propagandas de quem foi e gostou. Não me sentiria uma estranha no local, devido à minha pele morena, cabelos que denotam minha herança indígena. Estranha eu me sinto é aqui em São Paulo.
Pois bem. Eis que estou no ônibus que leva os passageiros até o aeroporto, e noto ao meu lado um rapaz de beleza exótica. Cabelos ondulados, médio comprimento, peitoral que dá pra imaginar pelo desenho que faz na camiseta. Notei que ele me olhava, fiquei esperando que fizesse alguma aproximação. Não fez. Chegamos ao aeroporto, distraí-me olhando uns folhetos, então quando percebi, poucos metros à minha frente estava este rapaz na mesma fila em que eu estava para o check in. Ficou me olhando disfarçadamente, mas tão disfarçadamente que não consegui identificar se estava interessado. Continuei aguardando. Para infortúnio da esperança que eu tinha de encontrá-lo dentro do avião (visto que ele ia também para Aracaju), o seu bilhete fora emitido com um nome diferente, e perdemos a chance.
Passei meu tempo em Aracaju procurando por ele enquanto visitava os pontos turísticos, e para minha surpresa o encontro novamente no aeroporto também voltando para São Paulo. Desta vez o bilhete estava correto. Vejo-o no avião umas poltronas à frente, do lado do corredor. Dou um jeitinho de passar por perto, ele está cochilando. Coloco um bilhetinho com meu telefone e volto para meu lugar.
Chegando a São Paulo, então ele me nota. Lanço um olhar provocador e saio rapidamente.
Agora torço para que ele tenha encontrado o bilhete e, ao menos, coragem de me ligar, já que não teve de se aproximar.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Pequenas perversidades do destino

O amigo Azec Sarmint (não é de origem da Ásia ocidental não, é pseudônimo isso) sempre teve resistência a obras de ficção. O lance dele sempre foram livros técnicos e documentários. O resto achava que era meio que perda de tempo. Mas tudo muda, e agora ele se arrisca na ficção (ficção? tá parecendo bem real essa história!). Está aí a contribuição do nosso amigo, para vocês verem se ele tem talento.

Voar é bom.
O ônibus especial para transporte de passageiros ao aeroporto sai quase lotado.
Vou nele. Eu e mais algumas dezenas de outros brasileiros e estrangeiros rumo a tantos destinos possíveis.
E eis que a graça divina me contempla com a companhia de uma morenaça, mui a meu gosto.
Cabelos pretíssimos tocando os ombros, olhos amendoados. A ausência de qualquer maquiagem só fez bem à morenice daquela pele de um acetinado irreparável.
Talvez ainda influenciado por minha recente viagem ao Mato Grosso do Sul, vejo nela uma estonteante e selvagem, porém doce, beleza pantaneira.
Pernas torneadíssimas e um discreto balançar do seios, no compasso dos movimentos do ônibus, dão-lhe aquele toque de atratividade que, por um momento, nos faz querer ajoelhar e pedir-lhe a mão. E suplicar todo o resto."Para onde vai a diva monumental?", pergunto-me em silêncio angustiado.
O ônibus chega ao aeroporto. Descemos e dispersamos.
Aeroporto vai, aeroporto vem, não dá meia hora e já estou na fila do check-in.
E quem comigo, uns poucos passageiros atrás na mesma fila?
Ela.
Tá bom, a fila é única e seria pouco provável tê-la em meu vôo. Mesmo assim, nutro alguma ingênua esperança de manter sua beleza ao alcance dos olhos, ainda que apenas de soslaio, e sob a envergadura de um sonho fugaz e tão passageiro quanto eu mesmo estava por ser.
Esperança que se calienta quando o funcionário da companhia aérea repassa a fila, indagando destinos, no afã de apressar os embarques.
- Aracaju, vôo 3511 - diz ela.
- Jesus! - pensei. - É o meu! Alguém lá em cima vai mesmo com a minha cara!
A fila anda e a funcionária do check-in me chama. E-ticket, localizador e RG em mãos, apresento-me prontamente.
- Senhor, não vejo sua reserva no sistema.
- Não é possível! A empresa que me contratou enviou a passagem por e-mail. Olha aqui!
- Senhor, estou vendo. O seu nome é Azec?
- Sim... quer dizer, não! Meu nome é José; Azec é o apelido.
- Senhor, não posso autorizar o embarque porque a passagem foi emitida contra seu apelido, não seu nome.
- Bem, olha... - Tentei argumentar, mas não havia argumentos. Por haver trabalhado em aviação na juventude, eu sabia que essas normas são rígidas e que não adiantaria querer argumentar, por maior que fosse o brilho dos meus raciocínios.
- (Nããão! Não é possível! Isto não está acontecendo!) Ok, senhorita, você tem razão...

Três dias depois...

Estou na saleta de internet do hotel em Aracaju. Por três dias, olhei para todo lado, até para dentro dos carros que passavam na rua.
Nada. Não mais a vi.
Daqui a pouco, vou para o aeroporto. Hora de voltar para casa.
Muita coincidência encontrá-la novamente numa fila de embarque, com destino a São Paulo. Se isso acontecer -- e será ganhar na loteria -- ao menos sei que minha passagem estará válida, desta vez.
E que a sorte nos acompanhe.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Demarcação de terreno

Deitou a cabeça no colo dela, que começou a fazer cafuné com calma e delicadeza.
"Tá vendo? Não precisa de cachorro. Você tem eu."

:: 18.03.2009 ::

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Dia dos Namorados Macabro III - A vida imita a arte

Tá bom que a idéia não era tão inédita assim, mas a coincidência (aconteceu cinco dias depois de publicado o conto) foi interessante. Se a notícia tivesse saído antes vocês iam achar que nos inspiramos nela, certo? E se os moleques fossem leitores do MCP, sabem daonde iam dizer que saiu a ideia, né?

A história só apitou um pouquinho na mídia porque trata-se de um condomínio de luxo na Barra da Tijuca. Se fosse na Baixada Fluminense ou no Boqueirão aqui em CWB, ninguém nem ia dar bola.

O link está aí pra quem quiser se enojar:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u582900.shtml

Obrigado à Maria pelo toque.

domingo, 14 de junho de 2009

"Sensacional, incrível, nunca peguei na mão um livro tão significativo desde a bíblia"

Frase atribuída a um pastor evangélico desconvertido depois de ler o inacreditável e obsceno MiniContos Perversos & Outras Licenciosidades, do gustavo Martins. Quem conhece o blog já pode imaginar o conteúdo. Para adquirir o seu, clique aqui.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Dia dos namorados macabro III

Silvinha tinha um grupo de amigos descolado. Saíam, bebiam todas, viajavam, muita música e dança, curtição na praia e no campo, baladas. De mulher tinha só ela, mas eles se tratavam como camaradas, muita sintonia. Algumas brincadeiras quentes eram normais, mas Silvinha sabia manter a distância segura. Às vezes ela exagerava na bebida e dava umas apagadas, mas nada que não desse pra administrar. No final de semana do dia dos namorados, Silvinha foi com a turma num sítio, a "festa dos encalhados". Na noite da véspera de Santo Antônio, sentiu um solavanco e acordou do transe. Percebeu que estava sendo estuprada pelos amigos, ficou lúcida do susto e começou a gritar. Sua voz foi sufocada com violência, o último presente de Silvinha. O freezer da churrasqueira nunca mais foi o mesmo.

:: 09.06.2009 :: Tudo diferente a partir de segunda-feira - AGUARDEM

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Dia dos namorados macabro II

Ciúme até que é normal, mas César era obsessivo. Monitorava celular, espreitava na rua, interrogava, inclusive as amigas (amigo homem não podia mais). Às vezes ela cansava, mas gostava da atenção e do cuidado, pois ele era bom pra ela, homem assim não se encontra por aí. Mas o César apertava o cerco. Um dia ela acordou sufocada. Tomou um banho, ficou linda, e telefonou para o melhor amigo dele, aquele charmosão que o namorado acusava de "galinha". Recebeu o convidado no quarto, fez tudo que mulher direita não faz, deixou-se fotografar, inclusive, sob juras, do amante, de que jamais mostraria a ninguém. Em 12 de junho as fotos aparecem na internet, causando estardalhaço na cidade. Quem publicou, anonimamente, foi ela. As fotos do César enforcado saíram num jornal popular.

:: 09.06.2009 :: Vinheta emprestada do falecido "naosaiacomele.com"; o(a) designer, cujo(a) não conhecemos, foi genial

terça-feira, 9 de junho de 2009

Dia dos namorados macabro I

Sedutor incorrigível, encontrou sossego na elegância e segurança de Odeth. Os sentimentos estreitaram a relação, ele se sentia pleno. Aos poucos, pequenas sutilezas e manipulações começaram a tolher as iniciativas dele, num crescendo incessante. Até a mobilidade perdeu... Quando a impotência chegou a um nível insuportável (impotência propriamente dita), deu a Odeth de presente, numa caixa bonita e decorada, aquilo em que ela tanto almejava mandar. Arrancou a faca, embalou, deixou com bilhete sobre a mesa e sangrou até o hospital.

:: 09.06.2009 :: Vinheta emprestada do falecido "naosaiacomele.com"; o(a) designer, cujo(a) não conhecemos, foi genial

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Eu beijei uma vaca porque não sei me controlar

Exercício criativo-literário cometido tardiamente pelo amigo Bemjamim Ventura, baseado no Jogo MCP 1. Logo o blog dele vai pro ar e a gente divulga. Concordam comigo que não dava pra segurar, né? Um catucão desses não (piada interna pranquem acompanhou/participou o[do] jogo) - GAME OVER

Minha falta de controle é item de comentário entre meus amigos. No tempo em que usava drogas (procedimento que adotei por não saber me controlar), estava sem grana um dia — melhor, uma noite —, quando vi uma mocinha que parecia muito simpática e caridosa, e gentilmente solicitei a ela uma breve contribuição para meu intento de encher uma lata que carregava comigo. Ela não precisava saber o conteúdo. E não faria falta pra ela, eu só queria um trocado. Diante de sua recusa, fui obrigado a ensinar-lhe umas verdades sobre caridade e ajuda a seus semelhantes. Tomei uma voadora que até hoje faz doer meu cotovelo esquerdo em dias frios. De certo que, se ela andou espalhando essa história por aí, ela jura que a história acaba aí. Mentira. Mentira da gorda. Aquela vaca me olhava com tanto nojo que julguei que o que pior que poderia fazer para retrucar sua admoestação seria beijá-la. Ficou se fazendo de difícil no começo, mas na semana passada batizamos nosso segundo bacuri.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Ressaca moral

Quando o cara acorda e dá um tapa na testa, ou matou um pernilongo ou aprontou uma bela cagada na noite anterior. Naquela manhã infelizmente fiquei com a segunda opção. Abri a carteira e, pelo estrago, aos poucos vieram as recordações.

Fim de mês, mesmo apertado de grana cedi aos apelos do Marquinho e debandei com namorada e tudo pro Bar do Tareco, que ficava ali perto do Bosque João Paulo — uma tentativa de resgatar o underground Tuba's, que bombava ali na vizinhança na década passada. Birita vai, birita vem, quando a Ana foi ao banheiro uma doidinha baixou pra conversar sobre produção de vídeo. Tá bom que eu tava cheio de más intenções, mas até que me comportei. Duro foi que na volta a Ana pegou a menina me entregando o telefone num papelzinho (única coisa que sobrava na minha carteira). No acerto da conta deixei metade do valor que tinha guardado pro condomínio.

Sentamos no Bar do Altair para a esperada DR, que durou bastante, tanto que a dolorosa devorou o dim-dim da conta de luz. Namorada (quase ex) devidamente despejada na casa dos pais, eu, muito puto, parei no posto da esquina de casa pra beber a saideira e pensar na vida. Foi-se o almoço de hoje.

Levantei procurando o despertador pra ver as horas, mas mal conseguia abrir os olhos. Lavei o rosto e... mais um tapa na testa. Eu estava perdidamente atrasado pro trabalho. A quarta começou muito mal.

:: 22.05.2009 ::