terça-feira, 25 de agosto de 2009

Manteiga verde

Os vizinhos ligaram pra minha mulher dizendo que a diarista estava passando mal. A coitada achava que ia morrer, isso que ela é super gente fina. A patroa foi de carro levá-la no hospital e ainda deu uma passada aqui no trabalho. Imagina a preocupação. E lá foram as duas.

Eu só saquei quando cheguei em casa e vi dois papeizinhos de brigadeiro no lixo. Como eles estavam há um tempão no congelador eu nem lembrava mais. Mas ai já era tarde. E deve ter batido de uma vez só, porque a diarista largou tudo aberto, as coisas esparramadas...

O médico ainda perguntou se a diarista tinha tomado alguma droga, mas como ninguém sabia, o diagnóstico foi stress e ficou por isso mesmo.

O tal brigadeiro com manteiga verde bate bonito. Vale a pena tentar, mas convém comer aos poucos, pois demora uns quarenta minutos pra bater, dependendo se o estômago está vazio.

O foda foi que só descobri o motivo do "surto" bem depois. Se soubesse antes, eu comprava uma coca dois litros, uns pacotes de salgadinhos e bolacha recheada e deixava a diarista vendo desenho animado, que ficava tudo certo.

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A RECEITA

Em geral as receitas da internet cficam só no refogar o "capim" e usar a gordura que sobra do refogado. Funciona, mas não fica tão bom por dois motivos:
- as impurezas dos insumos são invariavelmente comidas
- a quantidade de "reagenTHCe" é reduzida (o reagente começa a desmanchar quando submetido a uma temperatira superior a 120 graus)

Como o capim paraguaio standard que se consegue por aqui não é um primor de higiene e pureza, o melhor método é o da panela de pressão.

Coloque uns cinco copos de água, uns 30 g de chá paraguaio prensado e 150 g de manteiga numa panela de pressão. Põe tudo pra cozinhar e deixe na panela 20 minutos depois que começar a ferver. Cuidado nessa parte: sai um cheiro bem característico!

Depois é só coar tudo num pano (pra tirar os galhos) e deixar o líquido que sobra do processo descansando em um recipiente. Em pouco tempo a manteiga (mais leve) irá se juntar na parte de cima e o resultado final será uma água bem suja (que deve ser jogada fora) por baixo e uma manteiga verde (um tom bem bonito até) por cima, que pode ser usada pra qualquer receita.

Você usa pra fazer brownie, nega-maluca, brigadeiro, o que quiser. A seguir uma receita de caramelo, bem interessante (porque usa bastante manteiga):

Ingredientes
- 400 g de glucose de milho
- 1 lata de leite condensado
- 180 g de manteiga
- 350 g de açúcar
Modo de preparo: leve ao fogo baixo todos os ingredientes e mexa sem parar até dar o ponto de bala. Teste o ponto em água fria. Untar um tabuleiro (30 x 21 cm) com manteiga. Colocar o caramelo. Esperar esfriar e cortar. Cortar com tesoura as tiras e em seguida, na transversal, os pequenos caramelos.

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Então... foi isso que "me contaram". No mais, não sei de nada, não vi nada, não escutei nada. E mais uma vez: cuidado pra ninguém comer por engano (mesmo engraçada, a situação é complicada). E nada de fazer biscoitinho e deixar no chá da tarde da vovó e das tias, hein?

A mesma coisa já tinha acontecido com uns colegas na facul, que moravam numa república. Mas pra eles foi pior. A diarista ficou bem louca, começou a dançar... e acabou apanhando do marido quando chegou doidona em casa.

Classificar este relato como conto (ou não) fica para os literatos. Estruturamos a partir de uma conversa num "fórum" com um camarada que, por motivos óbvios, preferiu não se identificar. Ficou mais longo que os MCPs tradicionais, mas não dava pra publicar sem a (impagável) receita. O fato é que a narrativa em recordação e a revelação do "objeto" aos poucos ficaram bem interessantes... Se mudar de idéia, caro colaborador, avisa que lincamos seu blog aqui,com todo o crédito, ok?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Uma noite qualquer

Esta noite, em Bangladesh, um homem acordará com espanto daquele que julgava ser seu último sono. Enquanto Eros segue desatento, em um casebre miserável uma menina conhecerá a dor e o prazer. Jamais saberá distingui-los.

Esta noite, numa cidade qualquer, uma mulher incendiará as vestes com seu próprio fogo... e assim se consumirá. Aqui ao lado, um homem vai se afogar em seu copo. Estranhamente, ninguém ao redor perceberá.

A Indesejada das Gentes arrastará seu longo manto lentamente, senhora do tempo.

:: 21.02.2007 :: Soprado por Lani, a contadora de histórias desaparecida

terça-feira, 11 de agosto de 2009

A menina mais bonita é bem aquela que gosta de bichos esquisitos

Eu já tinha colocado a viola no saco, a despeito da beleza cristalina e dos 18 anos dela, quando falou que ia trabalhar de bartender numa boate de baixa categoria na Cruz Machado (ops). Tudo bem que ia fazer drinks e não necessariamente programa, mas acredito piamente que o meio faz o homem.

Foi aí que lembrou que ia ganhar do pai um esquilo, mas que queria na verdade uma cobra (ops). Comentou que um amigo tinha uma caranguejeira, e que ele gostava de andar com a bichinha pela rua, amarrada numa cordinha “tipow” coleira, e que um dia, numa distração, um transeunte tacou o pé na peluda. O amigo e ela choraram aos cântaros.

Quando perguntei se não servia eu de estimação, ela disse que era meio ruim com os bichinhos, que um dia tinha jogado a tartaruguinha na parede (ops) e que gostava de alisar os peixinhos por longos períodos fora do aquário, na mão, até quase pararem de se mexer (ops! ops! ops!).

Ela tinha um sorriso lindo, um conjunto perfeito e até que brincava bem “no ninho”, mas de manhã a deixei em casa e disse que estava de partida pra Nova Zelândia.

:: 11.08.2009 ::

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Trabalho em equipe [ou o diálogo que entrou pra mitologia da agência de propaganda]

Mais um continho sensacional do Victor Hugo, que aqui dispensa apresentações -- ao leitor novo, é só clicar ali embaixo no marcador CONTRIBUIÇÃO que várias dele aparecem. O conto tem uns jargõezinhos de agência de propaganda (atendimento, dupla de criação, apresentar etc.). Em caso de dificildade, pergunta nos comentários que a gente contextualiza E especialmente pro autor: quase linc(ç)amos a empresa em que esse conto se deu ou foi concebido...

A menina do atendimento conversando com a dupla de criação que fez de última hora o anúncio que ela vai apresentar assim que terminar a impressão.
- Ai, não sei mais o que faço, ele não liga pra mim.
Redator meio puto:
- Que foda! (não se sabe se pelo assunto ou pela situação)
- Sabe o que é? Eu sou doida por ele e bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla bla faria qualquer coisa para ele me valorizar.
O diretor de arte e o redator se olham, ambos de ressaca e no pior mau humor da vida, e soltam em uníssono:
- Dá o cu pra ele!
Ela pega a peça que terminou de ser impressa e sai batendo a porta.