quarta-feira, 30 de junho de 2010

MCPmate Musa Rebelde

As fotos da Musa Rebelde serão postadas em duas oportunidades, não necessariamente simultâneas. Esta que vocês têm o prazer de fruir, mais discreta e comedida. A próxima, reveladora. Aos marmanjos e babões de plantão o recado que ela dá é taxativo: "Se é bom assim só de olhar, imagina como foi escrever".

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Dói só de pensar

Essa vida é uma droga. Cansei de fingir que está tudo bem e que a vida é boa. Cansei de mim. Não aguento a pressão. Me sinto muito mal, tanto física como psicologicamente. Por causa de um FDP minha vida virou de pernas para o ar. Meu natal foi horrível, o ano novo pior ainda. Foi na véspera que recebi a notícia.

Há um ano eu tinha um namorado, estivemos juntos por mais ou menos três anos e a gente pretendia ir para os EUA, ele ia fazer um curso. De repente, sem mais nem menos, ele me comunicou que estava indo. Na época eu não entendi. Ele voltou agora para os feriados de final de ano, um dia chegou em casa e eu estava pronta para sair com meu novo namorado. Ele ficou puto da vida, discutimos e ele me contou que estava com AIDS e que possivelmente eu também. Discutimos violentamente, cheguei bater nele.

Fui fazer exames, e acabou que deu positivo. Desde aquele dia tenho vivido um inferno. Minha vida mudou, tem dias que estou bem, tem dias que estou otimista, e tem dias que quase é só enjôo e azia, reação ao coquetel.
 
Tive que contar ao meu namorado, se bem que ele não corria risco porque sempre usamos proteção. Ele fez exames e está limpo, mas nossa relação mudou depois que soube. Por isso resolvi acabar o namoro. Sou soropositiva, solitária, atormentada, e só não estou completamente sozinha porque tem um fantasma sempre comigo.

:: 17.02.2004 ::

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A balada das minhas origens

Estamos meio atrasados, mas vai lá: O Sandi Bartnik Godinho (camarada daqui de Curitiba que tem nome bacana que lembra "beatnik") lançou o desafio e nos indicou para dar início à aventura, aí nos esforçamos para não perverter demais o tema no primeiro capítulo, e passamos a bola para a amiga Menina Misteriosa, e aí a coisa tá andando sozinha organicamente. Vai virar uma novela ou romance de 41 autores. Pode imaginar onde vai chegar?

Minha certidão de nascimento foi maculada pela expressão Pai Desconhecido. Hoje em dia pode não parecer grande coisa, mas, naquela época, era o que precisava para meio mundo me chamar pelas costas de "filho de uma prenda desmiolada". Quantas e quantas vezes acenei de cabeça e concordei calado quando em roda de conversa algum interlocutor benevolente, sem saber minha condição, dizia "Mas pra quê colocar isso na certidão? Vai condenar o coitado a vida toda. Invente um nome qualquer, João da Silva que seja".

Minha cidade de nascimento é Quaraí, está ali na certidão. Fica perto de Santana do Livramento e da tríplice fronteira. Cidade de índio-velho, como minha boa mãe costumava dizer quando eu perguntava das origens. A propósito, minha mãe tinha lindos olhos azuis ofuscantes. E foi a força persuasiva desses olhos que nos libertou de viver praticamente enclausurados na casa de meus avós. Não tenho lembrança deles, pois antes que eu completasse três anos minha mãe aproveitou a passagem de um viajante abastado e conseguiu condução e teto para nós dois no Estado do Paraná. Saímos fugidos da casa de meus avós, e como minha mãe era temporã, nem por foto os conheci.

Quaraí é uma palavra linda, de origem Tupi-guarani e significa: "rio das garças", o que aprendi depois de pesquisar muito na escola do bairro São Francisco, em Curitiba, onde o viajante nos instalou e onde vivemos por muitos anos. O clima é parecido com o da minha terra natal, frio cortante, mas desde os anos 60 é uma cidade grande, o que fez a vida de minha mãe dar uma guinada. E me isentou de muitos problemas na infância e adolescência, pois nada é pior do que ser conhecido como filho de uma mãe-que-ronca-e-fuça.

O São Francisco é o bairro mais antigo de Curitiba no que se pode chamar de paisagem urbana. Desde o início do século XX já era conhecido com esse nome, e desde que nos instalamos num sobrado gélido e de pé direito alto, minha mãe passou a frequentar a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas.

Desde cedo chamei o viajante de pai, e não é preciso muito discernimento para deduzir que o Sr. Cândido Schahin só passava em casa um final de semana a cada quinze dias, e que superada a adolescência eu já inferia que ele mantinha outra família. Outras talvez.

Minha mãe foi batizada Querência, tinha lindos olhos azuis, corpo de menina, muito tempo livre e duas características de personalidade que, juntas, compõem uma mistura explosiva: senso prático e egoísmo.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Footing

Quem conhecesse a Menina Misteriosa lá nos primórdios do blog e das tuitadas dela, e lesse este continho que ela escreveu — enviou pra nossa apreciação e tomamos a liberdade de publicar no fechamento da Semana da Contribuição MCP — não acreditaria que era coisa dela. Pois ela tem ficado cada vez menos misteriosa e cada vez mais atrevida. Melhor para nós, leitores. Esperamos que o MCP não tenha sido influência.

Namorar, naquela época, só na praça, aos domingos. Moças andando em sentido horário; rapazes, anti-horário. Eventuais trocas tímidas de olhares. Depois de meses, podiam andar de mãos dadas. Ela, filha do prefeito, sobrenome importante, sempre quis burlar as regras. Mas o cabresto severo não permitia.

Seus pais escolheram o 'futuro marido'. Moço tímido, trabalhador, de boa família. Tão 'respeitador' que marcaram o casamento sem trocar um beijo sequer. Mas ela só tinha olhos para o 'Grama'. Arruaceiro, vagabundo, marginal, bêbado e ex-detento. Viva pelos becos. Era amigo dos mendigos e o queridinho das 'damas da noite'.

Um dia, se encontraram atrás da igreja e a diversão começou. Mas como se livrar de Emeraldo, seu noivo? Não podia ser deserdada, o Grama e ela nunca trabalharam.

Emeraldo, desconfiado, começou a seguir o Grama. Até que os pegou no flagra. Aproveitou o momento e fez a proposta: se casaria com Dazinha para contento das famílias. Cairiam nas graças da sociedade e manteriam as aparências. Dinheiro não faltaria. E ela ainda poderia continuar se encontrando com o Grama — que, aliás, iria morar com eles, sob o pretexto de cuidar do jardim — mas apenas três dias por semana. No restante, o Grama seria dele.

Dazinha concordou, desde que seus luxos fossem mantidos, que fosse sustentada, mimada e bem comida. Grama, acostumado com a vida nas ruas e prisões, nem titubeou. E deu um bom trato em Emeraldo ali mesmo, para expressar sua gratidão.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Amigos, amigos... sexo á parte

Terceiro elemento da Semana das Contribuições, o conto de hoje é da amiga Patrícia Garbuio, exuberante em tudo, até no número de blogs (Boca Rara, Beleza Alternativa e Falando com os Mortos). A propósito, esta não é a primeira participação da Patrícia no MCP... Em tempo: contenham-se, barbados!

Murilo me acusa de pervertida e leviana entre um sorriso malicioso. Não aceita meu raciocínio lógico sobre a vida, minha praticidade sobre as coisas. “Te adoro assim mesmo!”, termina nossas discussões sempre com a mesma frase.

À noite, no bar de sempre, evita a ficar a sós comigo desde que lhe disse que amizade entre homem e mulher não existe: “O amigo sempre vai querer comer a amiga”. Ele me contestou e tenta provar que estou errada.

A última noite não terminou no bar, e sim na minha casa. Nem conversa, nem amizade... A sós tudo é diferente e o amigo quis comer a amigaColoquei um dedo dele dentro da minha boca e chupei. Aproximou-se e senti o hálito quente, as línguas se entrelaçaram... até o beijo ficar selvagem.

Arrancou minha blusa como se desejasse há muito tempo.  Deitei-o na cama e, de pé em cima dele, levantei a saia e tirei a calcinha. Com seu olhar grudado em cada movimento meu, me abaixei até ele roçar a boca entre minhas coxas. Segurou-me pela bunda e afundou a língua dentro de mim. Murilo gemia de satisfação e, na fome por sexo, senti sua boca penetrar em todos os lugares possíveis. Agarrei seu pênis e engoli de uma vez, todinho dentro da minha boca num sobe e desce incansável.

Rolamos pela cama abraçados, pernas entrelaçadas pelo corpo. Suguei toda sua energia e fiquei de quatro. Gozou só de olhar. Provei que Murilo sempre me desejou, e a vontade era tanta que me deixou na mão.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Negão Doce

O segundo representante da Semana das Contribuições é o Edu Passos. O mote desse conto do saiu  de uma brincadeira no Twitter. O autor tem um senso descritivo muito interessante, impresso no blog dele, O Significado é... e, agora, aqu no MCP.

Sem vergonha alguma, até porque não era motivo de provocação ou brincadeira, seu carro é conhecido como Negão Doce. A conotação sexual é inevitável. E é justamente essa maneira de chocar todo mundo que deixa a Bárbara toda orgulhosa.

Falar de uma saga freudiana, que começou com Barbies e Kens na infância, é muito simplista e mentiroso. Afinal, ela jamais gostou de brincadeiras prontas, de plástico, compradas na rua. Bárbara criava jogos, contava histórias e nomes.

Por isso, não interessava se a boneca se chamava Susy, Barbie ou Bebê Pipi. O negócio dela era criar nomes para as coisas. Também não é certo imaginar que essas características faziam com que Bárbara fosse uma personagem da Clarice. Não havia ironia, nem maldade, nem recompensas pela sua mania de nomear as coisas. Ela não era nem a dona do livro, muito menos a magrinha sofredora.

Por falar em sofrimento, já adolescente, Bárbara perdeu alguns namorados porque não resistia ao impulso de impor um apelido mais escandaloso a cada um deles. Às vezes os apelidos ligavam as características de ex e atual. Lá vai o Esse Também não Faz Nada. Nome e sobrenome.

Então, com esse mesmo viés safado é que surgiu o Negão Doce, seu pejozão, como era conhecido pelos amigos. Na verdade, foi uma aposta, uma resposta a um desafio de um grupo de amigos após uma noitada. Duvidaram que ela tivesse coragem de pedir para o frentista limpar bem o Negão Doce.

Dois reais na mão do José e começou o mito. Agora, todos os finais de semana, ela desce até a garagem, liga o som, abre as portas do Negão Doce e pensa na vida. Enquanto a água ensaboada desce pelo ralo, um vizinho imagina na varanda o que Bárbara faz da vida.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Banquete

Abrimos a SEMANA DAS CONTRIBUIÇÕES com a querida amiga (e intensa) Flávia Brito. Mesmo estando sumida, é desnecessário apresentá-la aqui. Curiosidade sobre ela? Notem que nos contos antigos sempre há um comentário deletado pelo autor. Não me perguntem porque, mas na época ela apagou TODOS os comentários que havia feito no MCP. Eita menina complexa!

Serviu-se de uma modesta porção de um qualquer-coisa-vegetal da qual mordiscou não mais que dois tomates-cereja, apenas para não parecer tão enfastiada e para confraternizar com os outros convidados - afinal de contas era o casamento da melhor amiga, fiel companheira de aventuras e dietas, e ela merecia aquela incontestável prova de consideração e renúncia. Por pouco não sucumbiu à tentação de cair de boca na musse de chocolate; foi salva pela sua habilidade com números, que lhe permitiu converter, em uma fração de segundos, o valor calórico da guloseima em quilogramas desconfortavelmente aboletados na cintura e nos quadris. Horripilante, mesmo enquanto hipótese. Afastou de si o tal cálice com o coração partido, é verdade, porém com o corpinho manequim 36 devidamente salvaguardado. Voltou para casa exausta, mas gloriosa. A noite fora sua, mais até do que da noiva, a amiga que lhe perdoasse o inegável e inevitável roubo das atenções. 

Descalçou as sandálias de saltos altíssimos, espreguiçou os dedos dos pés, endireitou a coluna e atravessou a escuridão rumo à cozinha - relembrando com orgulho a deliciosa sensação de ter cada pedaço do seu corpo devorado pelos olhares masculinos, mordido, reverenciado quase religiosamente por aquela coletiva, íntima e testosterônica salivação - acendeu as luzes: os vestígios do lanchinho pré-casamento, engolido às pressas para evitar uma possível orgia gastronômica durante a festa, ainda estavam espalhados sobre a mesa. Dois pacotes de macarrão instantâneo, três fatias de pizza de calabresa com muito queijo, quatro bombons Sonho de Valsa, um Mac Tasty com coca-cola e um pote de Nutella. Tudo devidamente vomitado, óbvio, afinal era preciso caber sem sobras dentro do vestido tomara-que-caia. Arrumaria a bagunça depois. Precisava mesmo era amansar a fome despertada pelos tomates-cereja, maldita hora em que abrira mão da espartana disciplina alimentar para engolir aquilo. 

Nem teria coragem de encarar a balança depois mas havia a fome, felicidade dava fome, vitória dava fome, tomates-cereja davam muita, muita fome. Além do mais, sempre havia o providencial expediente das dedadas na garganta para dar aquela consertadinha nos eventuais excessos. Deu de ombros e sorriu, feliz. Sentou-se no chão da cozinha, cruzou as pernas como uma criança e, triunfante, abriu a bolsa abarrotada de bem-casados (surrupiados com o máximo da elegância e discrição) e saboreou-os um a um, lambendo os dedos, em comemoração ao sucesso da sua aparição, repetindo para si mesma - enquanto se encaminhava ao banheiro já com o dedo em riste para concluir o ritual da noite - que ser diva, realmente, era coisa para poucas.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Dia dos namorados macabro IV

1º ato — Ela entra no carro linda e radiante, um envelope na mão. "Olha aqui seu primeiro presente", passagens para uma viagem para os dois ao Nordeste em julho, "o segundo dou depois. Eu te amo".

2º ato — Escolher um restaurante bom e tranquilo no dia dos namorados é um desafio, mas ele tira de letra. Dividendos da experiência. Um lugar charmoso e praticamente só para eles. Encantada, ela resolve dar o segundo presente no restaurante mesmo. Suspende os cabelos longos para o lado com muito charme e exibe a letra G tatuada na nuca, envolta por duas asas de borboleta estilizadas. Ele não sabe como reagir, foi inesperado. "Tatuagens são para sempre. Assim como o amor que eu sinto por você", diz emocionada.

3º ato — Já no quarto, ambos muito excitados como sempre ficam no prenúncio do fazer amor, ele dá um anel para ela. Nada extravagante, um diamante discreto, nenhum pedido, mas simplesmente um mimo que ela merece. Ela diz "eu te amo" várias vezes enquanto fazem amor.

4º ato — Ela demonstra frustração por não ter recebido "o pedido" nos nove dias e noites maravilhosos que passaram na praia paradisíaca do Nordeste. Descompensa nas compras. Surgem desavenças, mas ela coloca um ponto final com um "eu te amo" brutalizado por seus olhos verdes cristalinos.

5º ato — Na volta à rotina, depois de desmarcar dois encontros, ela telefona e pergunta se ele quer realmente ir no aniversário da avó, em que toda família vai se reunir, pois os lugares serão insuficientes. Ele a manda enfiar o lugar, os pratos e os talheres no cu. Ela não diz "eu te amo" na despedida.

epílogo — Três dias após, quando se encontram para devolução das coisas dela que ficavam na casa dele, aparece a tatuagem com o G já coberto pelo corpo da borboleta. Sem mágoas, decidem se tornar bons amigos, mas como todo mundo sabe, isso é só uma piada de mau gosto.

 

:: 11.06.2010 :: Este MCP é continuação da série Dia dos namorados macabro (I, II e III), como prometemos em 2009; percebam que é o mais trágico, motivo pelo qual optamos pelo formato teatral (roteiro). A vinheta foi "emprestada" do falecido naosaiacomele.com