sexta-feira, 29 de julho de 2011

Luta de classes num balneário qualquer

Estava no litoral na temporada, mas a serviço. Todo dia o mesmo tédio do emprego subalterno, limpar, cozinhar e cuidar de crianças mimadas que choram até quando pisam na areia diante da mãe, obesa e ausente.

À tardinha, na hora da folga, colocava um biquininho sumário amarelo que ressaltava a bunda empinada e ia para a praia. No mar, mergulhava, flutuava, pulava de alegria e tesão entre os homens que se posicionavam casualmente ao seu redor.

Ela preferia os casados, e provocava, como que desafiando as granfinas que a miravam dos pés à cabeça no calçadão e metralhavam desprezo ao notar sua indisfarçável humildade.

Mergulhava e deixava escapar um seio, demorava arrumar, e por várias vezes roçava a bunda nos homens que a rodeavam, sentia nos olhos dos canalhas o desejo e o medo de serem flagrados em seus calções, tão próximos das esposas que, da praia, observavam desconfiadas.

Nesses momentos era feliz, invadida por um sentimento bom que fazia esquecer o salário miserável.

:: 29.07.2011 :: historinha contada pela Sra. Yfy

terça-feira, 26 de julho de 2011

Deixe de ser intransigente, com você ou com os outros, mas tenha estilo

Tenho um problema com gente indefinida. Talvez seja uma projeção do medo que eu sentia de ser assim. Vou explicar. Gente indefinida gosta de tudo, usa roupa da moda ou qualquer roupa, se diverte com coisa qualquer. E se me livrei dessa maldição foi por causa de um conflito entre o Marco e a Eliana.

O Marco era a cultura dominante, do jazz-MPB, de se vestir certinho e do esforço para o sucesso. A Eliana era a contracultura, do rock (de verdade), do escracho e da individualidade — principalmente do "vivo do jeito que eu quero". Eu nasci no meio desse conflito, e ele me moldou.

Para ter uma noção de como isso é forte em mim, eu simplesmente não saberia o que calçar se não fossem minhas botas. Não seria eu mesmo sem elas. Sapatos comuns, sapatênis e allstars fariam com que me sentisse descalço.

Sobre gente indefinida, me dá um desânimo quando converso com alguém com discernimento e a pessoa solta um "admiro a Rihanna/Ivete" ou "gosto do lado romântico do sertanejo/axé" ou "não sabe o que perde por não ir no tush-tush/pagodão". E não é por ignorância que se fica assim, mas por não se ter oportunidade de definir um estilo.

A salvação é que a qualquer momento pode aparecer um amigo, turma, namorado ou ídolo que ofereça a perspectiva do estilo. Portanto, abra as portas da percepção, faça uma constante autocrítica, veja se ultimamente você não tem passado por "ninguém". E antes de culpar sua formação ou a sociedade, analise se não é você mesmo que vestiu a tapadeira. E tenha sempre em mente que não é proibido mudar.

Antes que você se consuma em curiosidade ou divagação, Marco e Eliana são meus irmãos. Eu fui um caçula disputado e isso também diz bastante sobre mim.

:: 26.07.2011 ::

terça-feira, 19 de julho de 2011

Cuida de quem cuida de você

Assim que a Salete entrou no carro o Zé já percebeu que estava azeda. Acontecia de vez em quando, mas naquele dia aquilo bateu mais forte nele. Ela entrou séria e não fez menção de beijinho ou qualquer carinho, usava um perfume que ele não gostava e, pior, ele tinha saído de casa só pra buscar a bisca.

No caminho, deu umas dicas de que aquilo não estava legal, mas a Salete só falou "não é nada". Chegando em casa o Zé desceu o verbo. E se tem uma coisa que sabe fazer é trabalhar no emocional de alguém. Ela é gente boa, gosta dele, mas estava farto de tolerar falta de educação mal direcionada. Entre outras coisas, ele falou que não era motorista, que se fosse para curtir a companhia de uma estátua era melhor ficar sozinho em casa e o principal: "Guria, cuida de quem cuida de você". Anunciou que ia chamar um táxi pra ela.

Salete sentiu. Sabia que homem limpinho e bom como o Zé não era fácil encontrar, se derreteu toda, pediu desculpas, ia mudar. Ele não amoleceu, deixou de esmola devolvê-la no dia seguinte na hora de trabalhar, assistiu alguma coisa na tv e foi pro quarto dormir. Ela foi junto, era o ritual deles. O Zé deitou impassível e não a puxou no colo como sempre fazia. Choramingando, ela se desculpou e pediu colo. Mesmo gélido, o Zé cedeu.

Então Salete, a encantadora de cobras, usou seu talento. Enfiou a mão no pijama do Zé e fez a magia acontecer. Não tem cristão que resista e começaram uma festinha meio mecânica. Foi aí que, não se sabe de que meandro da psiqué perturbada, Salete soltou um "me bate!" Imagine a raiva contida do Zé, diversos maus humores que ele suportou, tudo se projetou para sua mão pesada e descascou um tapaço na cara da moça. Ela se assustou e chorou, mas não parou de transar.

No final, toda melosa e enterrada no colo dele, Salete confessou "eu queria era apanhar na bunda". Lá no fundo o Zé sabia, mas pra que desperdiçar essa rara oportunidade didática?

:: 19.07.2011 ::

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Promoter para o meu velório

- No dia em que acontecer, manda rezar a missa e cuida da inscrição da lápide.
- Já cuidei do seu epitáfio: "Aqui jaz uma mulher-menina que nadava pelas nuvens e formulava palavras de tudo aquilo que, mesmo sendo, nunca tinha sido".
- Poético. Sempre pensei que você me via mais lá embaixo, mais no limbo.
- No meu caso, não quero missa, não gosto de padres. Quero novos rituais. No meu velório quero uma chopeira e garrafas de whisky. E rock e blues rolando solto. Nada de reza.
- Larga o pé da letra! Isso é rezar a missa, percebe? Música é prece. Faz bem pra alma. As bebidas são o sangue. Nunca bebeu o defunto?
- Eu geralmente bebo o defunto antes, e ultimamente me sinto meio repreendido nos velórios. O mundo está ficando chato. O pessoal tá ficando velho no sentido triste da palavra.
- Pois não esqueça de me beber. Me beba, com estilo ou sem. Pode ser durante.
- Você e sua mania de achar que beber tem que ter estilo.
- Constatação: infelizmente nos dois casos não vou poder beber com você.
- Acho que tô ficando sem companhia. 
- Meu medo, hoje, é que meu enterro seja caretão. Preciso da sua ajuda, ok?
- Pode ter truco?

:: 14.07.2011 :: Nasceu de uma conversa com aquela que anda sumida, mas não morreu

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Um cara do tipo que se apaixona por putas

Depois de anos de fidelidade conjugal e já de saco cheio da esposa (chata, malvada e futriqueira), o Zé resolveu ir com uns amigos numa casa de alto nível. Lá conheceu uma puta dessas lindas e se apaixonou pela menina.

Numa segunda visita combinou de ver a moça fora da casa, e gamado que estava, para garantir um mês de encontro nos dias em que ele quisesse, passou cinco cheques 200 reais.

Quando contou para os amigos, primeiro eles tiraram bastante sarro, óbvio, mas depois fizeram o Zé se tocar da merda que tinha feito. Era evidente que a mulher ia sumir. O Zé sustou os cheques, o que foi uma cagada ainda pior, porque a puta poderia ir atrás dele ou até da esposa, ou mandar alguém cobrar o espertalhão com mais "entusiasmo".

Por sorte não deu em nada a confusão, mas romântico incorrigível, o Zé ainda acredita no amor das mulheres que ele banca. Agora, pelo menos, desfruta quando paga.

:: 07.07.2011 :: história contada pela Mariamélia

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Pendura que te penduro

O Zé apanhou feito cachorro vagabundo de um patrão depois que consumiu o bagulho na presença do cara e falou em pendurar. Mereceu os safanões porque se fez de desentendido. Existe um código de ética nesse comércio, Zé! Não se pendura, nem entre amigos. É diferente dos negócios com comida, roupa, carro, viagem, bebida até. Acontece que nem no comércio do prazer: no momento da volúpia o cara topa qualquer trato, mas depois de saciada a vontade bate arrependimento e o cliente tende a fazer de conta que não é com ele.

Não tem desculpa, Zé. Traficante e proxeneta não fazem fiado.

:: 22.12.2005 ::