quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Opala vermelho (parte 1)

A gente parecia inatingível quando rodava pela cidade no meu opalão vermelho. Era antigo, eu sei, a pintura estava opaca, mas ele dava uma sensação maravilhosa de poder. Eu e minha namorada. A gente roubava um extintor de algum prédio e saía pela cidade para descarregar numa pessoa qualquer. "Ei, moço! O senhor pode dizer onde é que fica a rua Francisco Torres?" No momento que o velho se abaixava para dar a informação, toooooooff nele! Ficava inteiro branco sem saber o que fazer. E eu arrancava meu opalão vermelho cantando pneu. A gente se matando de dar risada.

Eu e minha namorada, no opalão, éramos loucas de dar nó. Lembro que a gente pegava uma caixa de ovos na casa da mãe dela — a coroa me odiava! — e passava pela praça do Atlético tacando os ovos nas cabeças dos travestis. Eles corriam quadras atrás da gente. Eu, de propósito, andava mais devagar, só para eles acharem que podiam alcançar. Então eu arrancava com tudo. Ficavam com mais ódio ainda. Todo travesti odiava meu opala. Eu e minha namorada, nós o amávamos.

E nos amávamos dentro dele. Assim, na rua mesmo, tarde da noite. Sem medo de sermos pegas de surpresa. Conversávamos até o vidro embaçar inteiro, depois pulávamos para o banco de trás — no banco de trás era mais gostoso — ficávamos semi-nuas e fazíamos de tudo. Ali era o nosso cantinho, onde ninguém nos incomodava. Nada de ir a lugares muito retirados como os parques. Nestes a polícia ficava à espreita dos casais imprudentes. Eu parava perto do centro, em ruas mais calmas. Ah, como era bom ela correndo o indicador pela alça do meu sutiã, descendo, enfiando o dedo entre o tecido e a pele, tocando no bico do meu seio.

(continua)

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

MCPmate - CK

A leitora que nos premiou com essa foto enigmática (e não menos deliciosa) pediu para ficar incógnita. Mas vocês podem tentar adivinhar quem é.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Onze da manhã num hotel barato

Não pense que tenho vergonha de ter morado no bairro da zona. O único problema era a marcação cerrada da família. Eu quase não podia sair do quintal. Meus irmãos fugiam, mas nunca me levavam junto. Meu pai me fechava dentro de casa e colocava talco no chão. Se eu escapasse, deixava pegadas e apanhava feio.

Depois me mandaram para um colégio interno caríssimo. Meu pai estava errado. Qualquer menina filha de puta do nosso bairro era mais comportada que as meninas da escola particular. Um dia deixei vazar em casa as coisas que eu via por lá, foi um escândalo.

Voltei a estudar na cidade e um dia aconteceu o que a família temia. Só não caí em desgraça porque não contei a ninguém. Foi um cara mais velho que ficava na porta de um hotel barato no meu caminho da escola. Sempre, quando eu voltava pra casa, ele me convidava para entrar. Eu podia mudar o caminho, mas alguma coisa me impelia a passar por ali. Um dia não tive aula depois do recreio e decidi matar a curiosidade. Aceitei o convite.

:: 29.10.2004 ::

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mania difícil de perder 2

Um interessantíssimo outro ponto de vista, um conto de f(r)icção dela.

Minha linhagem paterna é muito bonita. Olhos marcantes, nariz pequeno e bem talhadinho, boca generosa.

Lembro quando um primo de meu pai -- que estava estudando para ser santo -- foi nos visitar. Eu estava na flor da idade, peitinhos começando a despontar, cinturinha ainda de criança, bunda já de mulher. Meus hormônios estavam agitados e provocar me excitava. Cidade quente, sabem como é, vesti meu shortdoll minúsculo de pano bem levezinho e desci para cumprimentar o futuro padre.

Minha mãe quase enfartou. As sombras de meus mamilos, duros, podiam ser vistas pela transparência, pareciam querer rasgar o pijaminha e sair. Ela estava com os lençóis e toalhas na mão, indo arrumar o quarto onde ele passaria a noite, e jogou-os contra meu corpo. Entendi no seu olhar “segure-os para se tampar um pouco e tome seu rumo antes que eu o faça por você”. Olhei maliciosa para o primo e subi as escadas rebolando inocente, segurando as roupas de cama, na frente. Minha mãe subiu correndo atrás para evitar que ele visse muita coisa, e na subida lascou um tapa na minha bunda, que ressoou.

Hoje ele é um padre famoso, faz palestras, shows e gravou CDs. Foi em programa de televisão e tudo mais. Confessou a uma apresentadora sensacionalista que a única provação que quase o fez desistir da vida eclesiástica foi uma priminha torta saliente que até hoje povoa seus sonhos.

Já saí da casa dos meus pais, moro sozinha. Chamei-o para benzer minha morada e tratar o demônio que habita meu corpo. Cair em tentação, pode. Uns tapinhas para me purificar também. Mas desistir de tudo por mim, não, obrigada, não tenho vocação para cuidar de marmanjo desgarrado. "Afinal, pecado é todo mal consciente, seja do clero ou do pagão."

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Mania difícil de perder

A mãe jogou fora toda a coleção de cedês do Padre Marcelo e daquele outro padre cantor, o Fábio de Melo. Este, por sinal, tem uma cara de porteiro de boate que eu nunca vi. Vejo uma mensagem contraditória naquele olhar pseudo-sexy.

Resolveu abandonar a religião em que foi criada depois de sentir o impulso de se masturbar vendo as fotos das capinhas. Jogou tudo fora e imputou a culpa no Vaticano.

Dias depois a filha comprou uma casa nova onde colocou a mãe para morar. Dizia que a casa era da mãe, não por bondade: a gratidão extrema teria o propósito de limitar os impulsos controladores maternais. "Para comemorar, faz uma foto sua nuazinha no sofá da sala nova e me manda", pedi. À filha.

Dia seguinte abri ansioso a caixa postal, mas nada de foto. Ela me ligou: "Ontem eu não fiz aquela parada que você pediu. Acredita que foi um pastor da Igreja Universal lá em casa? Minha mãe que chamou."
Não me contive e soltei uma gargalhada: "Então você converteu o pastor para o caminho do satanás?"
"Não. E nem esperei ele tentar me converter. Eu saí."
"Sua mãe acha que você está possuída?"
"Até que não. Ela chamou o cara para benzer a casa nova."

Fiquei pensando qual seria a água benta da Igreja Universal.

:: 12.08.2011 ::

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Casamenteira

O Zé começou a namorar a Clara, filha do padeiro. Todo mundo avisou que ela era doida para casar, mesmo assim ele arriscou. Depois de investir bastante, acabou levando a moça para o sofá da casa dela numa tarde de sábado em que a família cuidava da padaria. Até que foi fácil partir para o "acasalamento", ela não botou objeção.

Nos finalmentes, o Zé lembrou da advertência dos amigos e gozou fora (essa história é da época em que não era forçoso usar camisinha). Foi tudo para o encosto do sofá. A Clara começou a chorar e passar a mão na mancha. Ele ficou comovido e disse para não ficar preocupada, que era só esfregar pano úmido que a mancha sumia. Ela olhou para ele ainda chorando, passando a mão da mancha para "as partes", e disse: Mas eu queria esse filho... Eu queria esse filho!

:: 29.07.2004 ::