sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Mulheres lindas também cagam

Fui ao cinema mas quase dormi, entediada, queria outra coisa. Falo do meu desejo, ando com a libido à flor da pele. Em público tento capturar algum olhar que procure o mesmo que o meu, mas o mundo parece que está em coma.

Talvez eu ainda não saiba como fazer. Como se meus olhos estivessem embaçados por um filtro do instagram. Queria fazer como as putas de antigamente, que cravavam os cotovelos na janela aplicando “o olhar” aos passantes. Escolhiam, atraíam, em segundos.

Sinto calor, sinto fome, mas nada se compara ao tesão. Recebo propostas dos apaixonados que dispenso, dos amigos que evito, dos homens das amigas (estes, desejo; autossabotagem?). Minúcias diferenciam, no fio da navalha, quem é para eu ser: amiga ou amante ou namorada.

Tão perfeita, linda e completa, uma mulher do mundo. Fui condenada a não ser de ninguém. Enquanto na essência toda mulher quer um homem, um dono, um objeto da paixão... o verbo amar não conjugo nem para mim.

:: 30.11.2012 :: 

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Os fins justificam

Ouvi hoje o caso de uma moça que saiu com um médico respeitado na cidade. Jantaram chique e depois foram na casa dele tomar um vinhozinho. Mal chegaram e o doido saiu correndo atrás dela com a calça arriada. Ela fugiu circulando em torno da mesa, se assustou e correu do lugar esbaforida antes que ele a pegasse. O tipo que exagera na bebida e perde o controle. Dias depois, saiu com ele de novo, afinal ele é médico.

:: 19.11.2012 :: Historinha contada pela diva Helô Gellhorn

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Confissão avessa

Vocês podem achar estranho ou até duvidar, mas teve uma época que resolvi sair por aí pelas ruas salvando pessoas. E o que me afastou dessa lida de super-herói é que inúmeras vezes os que estavam sendo salvos é que me afastavam. Sem querer eu causava ojeriza neles. Descobri que na essência o ser humano quer se salvar sozinho. Aqueles autônomos, que pensam, claro.

Larguei a capa e a máscara e fui cuidar da minha libido, que dói bem mais em mim que a dor do mundo.

:: 05.11.2012 ::

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Então ela se apropriou de mim

Orgia, hoje és minha inimiga
Os sofrimentos me obrigam
A me afastar de você
Adeus, violão, amigo leal
Estes versos que eu fiz
Devem ser a rima final
(Angenor de Oliveira, o Cartola)

Era uma vez uma velha. A velha mania que eu tinha de esquecer de disfarçar nos momentos em que esconder a embriaguez é questão de sobrevivência. O dia estava claro quando saí do bar aos fundos da Praça do Homem Nu, para ser mais exato, quando me expulsaram de lá. Ficou evidente que tinha acabado meu dinheiro, e o Laércio, que fechava o turno da noite, aprendeu a me cobrar adiantado nessas horas. Torcia para que ele morresse atropelado e colocassem outro, inexperiente, no lugar.

Convenci o motorista do ônibus parado no ponto inicial que eu tinha sido assaltado. Entrei pela porta de trás. Não ia aguentar andar até em casa, o sol começava a atravessar a espessa neblina do amanhecer ensolarado do inverno curitibano. Deus, como faz falta óculos escuros nessas horas.

Desci no Terminal de Santa Felicidade, mas já na passagem vi a filial da “Igreja Global da Monarquia de Deus” que tem ao lado. Os malditos escolhem bem onde colocar os templos. Desci e fui direto à igreja. Estranhei o ambiente espartano e frio. Havia algumas pessoas por ali. Dirigi-me a um homem de terno que conversava com algumas mulheres perto do púlpito, imaginei serem fiéis. Interrompi a conversa: "Com quem eu faço um orçamento para tirar o diabo do meu corpo?"

As mulheres me olharam aterrorizadas, mas senti benevolência no engravatado. Seria o pastor? Seria mesmo ele um homem santo?

Digamos que eu não estava com o melhor dos semblantes, completava quase vinte e quatro horas bebendo, sem banho e quase sem comer. As mulheres se afastaram e ele se apresentou como pastor Jamir e explicou que era um cristão evangélico neopentecostal, que as pessoas não eram obrigadas a fazer contribuições, que faziam de boa vontade porque sempre recebiam de volta em graças. Explicou também que o dia do desencosto era nas quartas.

Perguntei se eles não precisavam de um músico para animar as missas. “Porque todo meu dinheiro foi roubado. Pelo diabo.” Não era exatamente uma mentira.

O pastor Jamir esclareceu que já havia obreiros suficientes naquele templo, mas que novos fiéis como eu seriam sempre bem-vindos. Segundo ele, bastava eu frequentar os cultos que as coisas iriam melhorar.

Fui para casa e pensei muito, até a ressaca passar. E chorei. Em casa só havia pão. O pão que o diabo amassou. Comi com azeite e chá. Dormi cerca de quinze horas. Acordei no dia seguinte, peguei meu violão Takamine e caminhei até a região do Cefet. Lá empenhei meu nobre companheiro de boemia pela metade do preço que valia. Peguei um táxi até o templo do pastor Jamir.

Entrei na igreja, estava com metade das cadeiras ocupadas — ou vazias, depende do ponto de vista. As pessoas cantavam em euforia, devia ser o ponto alto do culto. Os músicos eram da pior categoria. Música precisa de sentimento autêntico. Sentei isolado perto da porta e observei. Nada daquilo me compelia a participar.

Da mesma maneira, na mesma postura incrédula, assisti a diversos cultos, dias a fio. Para ser mais preciso, assisti a exatos 32 cultos. Sempre conduzidos pelo pastor Jamir.

No 33º, terminado o culto, permaneci em meu lugar até todos levantarem, falarem entre si e com o pastor, até todos irem embora, inclusive os músicos. O pastor percebeu minha presença. Aliás, percebia desde que comecei a frequentar a igreja. Ficamos no templo só ele e eu. Ele no altar, eu na cadeira afastada. Começamos a nos encarar. Alguém teria que ceder.

Acho que o homem se identificava tanto comigo que não aguentou e veio em minha direção: "Ainda quer tirar o diabo do corpo?"

"Quero, mas quero pagar pelo feito. Não preciso de ligação espiritual com esta fábrica de extorquir dinheiro de gente humilde. Quanto custa?"

"Me vejo muito em você, já fui assim, rebelde. Às vezes tenho dúvida se os demônios me abandonaram, se sou mesmo abençoado. Só que para fazer o que faço aqui, todo dia, eu tenho que fazer força para acreditar, senão enlouqueço. Ou me matam", falou com muita seriedade ao se dirigir à porta e trancar por dentro.

Será que ele percebeu por baixo da minha barba nossa impressionante semelhança física? Foi isso que quis dizer com "Me vejo muito em você"? O fato é que o pastor Jamir sentou ao meu lado e despejou confissões, do passado, do presente, do homossexualismo contido. Colocou a mão em minha perna e me olhou pela primeira vez sem complacência. Era um olhar pederasta.

Não foi o olhar que me impeliu ao gesto violento. Eu só pensei que não poderia haver sangue nem barulho que chamasse a atenção, e pensei no zoológico humano que tudo aquilo representava. Foi o golpe certeiro de uma besta canina direto no pescoço. Ele não esboçou reação, e antes que tentasse recobrar os sentidos estrangulei, com muita força, uma força que eu não sabia que tinha. Apertei até sentir a cartilagem estilhaçando entre meus dedos.

Passados meses, lembro daquilo que ouvi repetidamente na escola, na minha família, das minhas mulheres. Sempre disseram que destruo aquilo que não posso ter. Ora, essa impressão que tinham de mim tem a ver simplesmente com meu jeito de viver com autenticidade. Desta vez fiz o contrário. Acrescentei um elemento novo à minha existência: a vida dupla.

Continuo passando diariamente pelo Terminal de Santa Felicidade, mas agora num carro confortável. Vivo de cara limpa (estou falando da barba, do cabelo, das roupas) numa casa confortável. Só mantenho alugado o moquifo em que eu vivia antes por precaução. Tenho acima de tudo minha horda de seguidores, e com eles levo a um nível epifânico a hipocrisia. Minha igreja particular. Não preciso dos bares, tenho um muito bem abastecido na minha sala, onde me sacio diariamente, diletantemente. Não quero saber de conversa pseudofilosófica de fim de noite. Abri mão do desejo vicioso em prostitutas, já que posso selecionar a dedo as fiéis que levo para minha casa, e levo muitas, solteiras, viúvas, casadas, e com elas devo ter procriado de um jeito que nem imagino, pois bacantes crentes não se atrevem a intimidar um homem santo.

Quem diria que eu jamais abriria mão do meu romantismo destrutivo? Hoje sou um homem santo. Eu só fiz abandonar minha identidade.

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Não, não se trata de um MCP, mas de um conto dos grandes que inscrevemos de última hora, neste 2012, no V Concurso Servir com Arte. Recebemos nesta data a seguinte mensagem: "A Secretaria de Administração e da Previdência através da Escola de Governo e da Comissão Organizadora do V Concurso Servir com Arte 2012 tem a satisfação de lhe comunicar sua premiação na categoria Conto com Menção Honrosa ENTÃO ELA SE APROPRIOU DE MIM. O evento de premiação será realizado dia 29 de Novembro às 19:00h na Biblioteca Pública. Parabéns!" Será que polemizamos demais pra levar o ouro?


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Lugarejo (ou história de terror que Hollywood nunca filmou)

Num lugarejo de trinta e poucas famílias perdidas no meio do mato, ou do nada, como você preferir, a velha coloca uma ponta de galho no fogão a lenha e conta como aconteceu. Era uma moça linda, que nasceu pros lados de cima. A velha reforçou que morava pros lados de baixo, como quem diz eu só sei, não sou eu não moço.

Mas era muito linda mesmo, todo mundo olhava e dizia é um anjo. Até o pessoal da cidade que às vezes aparecia elogiava que ela poderia ser miss. Um dia a moça linda conheceu um rapaz da cidade, e era um tal de andarem juntos pra tudo que é canto que a mãe soltou a verdade sem rodeios: o moço é teu irmão. Desgrudaram como tinha que ser, ele foi embora, mas deixou barriga nela.

Mal nasceu o bebê e a moça linda enfiou-lhe um garfo na goela. Morreu engasgando sangue. O pai enlouqueceu e começou a procurar a filha linda que era dele. A mãe morreu de desgosto. A filha foi dormir com o pai, teve um filho que o pai mesmo fez o parto e enterrou no quintal. No dia seguinte o cachorro andava pra lá e pra cá com o bebê morto na boca. O pai então fez outro filho na filha, e depois de muitos anos fez filho na neta.

:: 25.10.2012 :: história contata por uma... velha

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Escambo

Botequim de beira de estrada. Eu na mesinha de fora esperando o tempo e o calor passarem. Pensava em dormir relaxado logo depois, e tocar viagem dia seguinte bem cedo. A conversa lá dentro chamou a atenção.

O Sebastião, de meia idade pra mais, engravidou a esposa fogosa, mas pegou nojo de ter com ela grávida. Mal encostava na mulher. Pediu para o amigo Uilso "cuidar" dela durante esse tempo, porque faltar à obrigação acabaria por transformá-la num cramulhão ensandecido. “Eu arrupio só ni pensar”, desabafou.

Passadas umas pingas, o Sebastião começou a negociar com o Uilso pra pegar a mulher dele na troca. Uilso, mais jovem e varonil, retrucou que daria conta das duas, que o amigo fosse procurar uma puta.

O problema é que a mulher do Sebastião era brava e não gostava de puta, não deixaria ele ir com uma qualquer. E claramente ela é que comandava o show, liderança herdada do medo que os outros tinham de enfrentar a febre dos "ormoni". A mulher do Uilso, tadinha, não sabia ainda do acordado.

:: 21.09.2012 :: Doce historinha contada pela incrível Lu

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Das diversas formas de tornar o filho um macho

O cortiço no fim da rua rendia histórias divertidas para animar as conversas da vizinhança. Eram algumas casinhas germinadas, improvisadas, e, nelas, gerações de famílias amontoavam-se em poucos cômodos. Difícil dizer se a criança era filho, irmão ou neto de alguém. Entre elas tinha o Leozinho, moleque grudento que era o terror quando entrava em casa para brincar. Falava demais, contava vantagem, fuçava em tudo... e a situação se agravou.

A mãe do Leozinho era uma gorda impetuosa, que visivelmente se impingia sensualidade. A ascensão da classe D (bolsa família, bolsa gás, defeso etc.) premiou-os com um aparelho de DVD. Ela então teve a grande ideia de passar filmes pornôs para o filho assistir, desde os dois anos. O pior é que alardeava entre os pares que “assim ele aprende e vira macho”.

Até o dia em que a turminha da rua (os do cortiço e os demais) se enfurnou numa garagem e resolveu brincar de médico ou coisa parecida, e o Leozinho tascou uma dentada no bingolim de outro moleque. De tirar sangue. Necessário explicar o que causou a dentada?

Do posto de saúde (foram só uns pontinhos e um trauma indelével) a mãe do "mordido" foi direto à delegacia dar queixa. A Justa acareou os envolvidos e achou por bem contemporizar.

Dias depois, tudo voltou ao normal na rua, menos as sessões de pornô, pois a mãe desnaturada tomou uma descompostura do delegado e o fato de a presença do Leozinho gerar certo alvoroço e passar a ser monitorada de perto pelas famílias.

:: 13.09.2012 ::

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Alopatia no tratamento do alcoolismo - Caso 2

O OUTRO LADO DA MOEDA - Um camarada encontrou o Armando na Praça Santos Andrade e, como médico nenhum consegue evitar, partiu para uma consulta informal:
“Você sabe que eu só bebo em casa, né? Diminuí quase totalmente as botequeadas.”
“É, em casa a gente acaba até bebendo menos.”
“Não é bem o meu caso. Mas sabe que acho que peguei uma alergia à cerveja daqui? Deve ser coisa da água.”
“Como assim?”
“É eu tomar umas cervejas e me dá um vermelhão, me sinto mal, formiga tudo. Como se desse ressaca na hora. Fico ruim de despencar na cama.”
“Ah, isso é sensibilidade a álcool. Pode aparecer com a idade. Não tem nada a ver com bebida da região.”
“Que nada. Dia desses fui num futebol com os amigos num sítio perto de Joinville. Depois rolou churrasco, e aí você sabe. Tomei caipira, pinga, uma cervejinha... primeiro com certo receio, e como não deu nenhum ruim, entornei o caldo. A bebida daqui é que me faz mal.”

O Armando achou melhor o amigo descobrir sozinho o estratagema.

Registre-se que o namoro do Zé com o projeto de rádio patroa não vingou.

:: 15.08.2012 ::

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Alopatia no tratamento do alcoolismo - Caso 1

Terminada a visita periódica ao ginecologista, a paciente faz um pedido:
“O doutor pode me fazer uma receita de Sarcoton?”
“É para a senhora?”
“Não, não. É que meu marido anda exagerando na bebida. Vou colocar na comida dele.”
“Mas o tratamento do alcoolismo só funciona se o paciente tiver firme propósito de parar de beber.”
“Ele não quer parar, doutor. É teimoso feito uma porta e bebe até ficar como um porco.”
“Tudo bem, vou fazer a receita. Mas a senhora tome cuidado, que se ele descobre vai lhe cobrir de porrada.”

(continua...)

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Alopatia no tratamento do alcoolismo

Lembra da época em que o Zé dividia uma república com o Armando, estudante de medicina? Um dia uma namoradinha do Zé perguntou para o Armando se ainda existia aquele medicamento Tiralcool enquanto olhava torto para o Zé entornando uns gorós excessivos no boteco.

Como o MCP também é cultura, o nome do medicamento mais comum hoje para tratar alcoolismo é Sarcoton. A bula diz: “Indicado como auxiliar no tratamento do alcoolismo crônico. Ele não é a cura para o alcoolismo; simplesmente fornece ao indivíduo um apoio ao seu desejo sincero de parar de beber. (...) A ingestão de álcool por indivíduos previamente tratados com Sarcoton (Dissulfiram), dá origem à sinais e sintomas acentuados, conhecidos como reação dissulfiram-álcool, caracterizados por: sensação de rosto quente, vermelhidão no rosto, dor de cabeça intensa, dificuldade de respirar, náusea, vômitos, suor, sede, fraqueza, vertigem, visão turva. O rubor facial é substituído por palidez, seguida de queda da pressão arterial.”

(continua)

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Me puxa pela tripinha

Era dessas pessoas que verbalizam o que passa pela cabeça, seja o que for, com naturalidade e simplicidade. Não vou copiar aqui os erros de grafia porque aprendi na faculdade com o professor Tezza que isso é opressão social. O importante é o interlocutor entender. Passou o recado, fechou o processo.

O processo que eu queria fechar era sexual. A "tripinha" não. Ela se referia à lingueta do bate-papo de uma rede social. Eu me empenhava para colocá-la numa armadilha que envolve ingredientes de excitação e curiosidade. Dizem que infalível — menos com mulheres que buscam homens com carrões e/ou terninhos.

Em tom confessional tentei extrair um fiapo da libido dela. Funcionou. Contou que tempos atrás ficou de conversa com um cara. Na primeira vez que saíram ela fez sexo oral nele, rolou no carro mesmo. Nem foi em servcar (como se diz em Curitiba), mas numa rua escura e sem movimento. Ela sabia que ele estava com pressa porque tinha que se encontrar com a noiva. Pensei que alguma conservadora a recriminaria (o piegas "não faço com os outros o que não gostaria que fizessem comigo"). Isso nem passou na cabeça dela. "Sabe por que eu fiz? Eu queria mesmo era ser chupada. Mas, ali, no carro, não dava. Ou até daria, mas era complicado de se ajeitar e não tínhamos tempo. Eu não dava nem chupava fazia uns três meses. Vi que ele estava excitado. Ele queria se aproveitar de mim e eu dele, não somos mais crianças. Não ia desperdiçar uma ereção que era pra mim. Dei o gostinho pra ele e fiquei com o gostinho dele."

Depois confessou que nunca foi a um motel sozinha. A bares sim. Falei que essa fantasia do motel eu não teria condições de realizar. Ela achou engraçado e aceitou como se fosse um convite. Percebi que por baixo da simplicidade rústica havia uma mente arguta e cínica. Puxei pela tripinha.

:: 09.08.2012 ::

terça-feira, 31 de julho de 2012

Pão que te partiu

Agora sim! Depois de testar as perversettes e leitores com um continho que já havia sido publicado, mandamos, a pedidos, um real inédito do Felipe Arriaga Carriço. Não contavam com nossa astúcia, hein? Percebam a nuance poético-perversa!

Tamanha fome sentia.
Por isso os lábios lambia.
E quanto mais lambia,
ainda mais fome sentia.
Mas não mordia,
pois lambia para matar a fome
e se mordesse não receberia
o "pão nosso de cada dia"
que a velha freira lhe oferecia.

terça-feira, 24 de julho de 2012

MCPmate - Uma nova... "Leitora"



Ou podemos chamar esta incógnita/discreta de... Bicuda?

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Jukebox

Eu tinha quatro anos quando minha mãe foi trabalhar na zona. Ela abriu uma lojinha de roupa de criança. Nesse novo habitat havia casas e bares repletos de moças bem dispostas e alegres. Elas adoravam os vestidos e camisetas vermelhas da vitrine.

Nordestinas, catarinenses e até umas moças das redondezas, sempre a mesma história: gravidez precoce, azar na vida e/ou trazidas por algum caminhoneiro que, com promessa de vida melhor em outro lugar, as tiravam da miséria e descarregavam ali na cidadezinha portuária.

No inicio os olhos tinham brilho, pele jovial e viçosa, carne nova como diziam. Frequentavam a loja, compravam os artigos mais caros, tinham motorista de táxi cativo e podiam até recusar convites dos ensacadores fedidos de suor e soja. Meses depois já estavam mais velhas uns cinco anos, corroídas por noites em claro, abortos, bebida e droga, carne passada. Nos olhos o brilho cedia lugar para o vazio. Ganhavam pouco por muito trabalho, passavam a escolher a roupa mais em conta e pagavam fiado.

Depois desse cenário, precisei de anos de terapia para aceitar que não sou brega. Mesmo assim, no bar, às vezes coloco uma moeda na jukebox e escolho uma música doída de amor perdido.

:: 15.06.2004 ::

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Tem castigo que sai pela culatra

Faltava um pouco de produção e sobravam uns quilinhos, mas tinha uma boca linda e era bastante sensual. Devido aos diversos complicadores de mulher casada, ela acabou dando um cano feio no Zé logo no primeiro encontro. Ele ficou puto e disse que quando se encontrassem iria rolar castigo. Ela assumiu uma posição bastante submissa, o que agradou o rapaz.

Quando deu certo o encontro, ela pegou o Zé de carro e foram a um serv-car. Sem qualquer preliminar nosso amigo botou para fora e mandou fazer o serviço. Ela obedeceu. No embalo, o Zé subiu-lhe a saia mas encontrou uma calcinha grande meio broxante, que ao ser afastada, em compensação, revelou que era 100% depilada, coisa que ele não tinha visto ao vivo até então — fora as amiguinhas nas brincadeiras de médico lá na infância, mas é outra perspectiva.

O Zé já estava se animando em acariciar a moça, mas lembrou que tinha um castigo a aplicar. Colocou-a de quatro sobre os bancos reclinados, ficou por trás dela meio desajeitado sob o teto do carro e encaixou com força, sem preliminares e sem piedade, no buraquinho de trás. Ela gritou, mas suportou. Era o castigo prometido. Então deu continuidade, e percebendo que ela estava com dor, o Zé ficou com pena e falou em parar. Ela implorou para continuar.

:: 21.01.2009 ::

segunda-feira, 11 de junho de 2012

MCP documento: GUEIXAS

Iniciamos uma nova série/marcador no MCP. Mais voltada para cultura e documentário. Título e o marcador são autoexplicativos. Serão alguns textos guardados, coisas que você não encontra por aí. Aceitamos sugestões e pedidos. 

O universo das gueixas confunde-se com o universo das artes -- seja a arte do canto, da dança, da conversa ou da sedução; a própria palavra "gueixa", aliás, pode ser traduzida como "pessoa que vive da arte" 

A imagem dessas mulheres, maquiadas de branco e vestidas em belos quimonos, sempre fascinou o Ocidente. E exemplos desse deslumbramento não faltam, tanto no cinema como na literatura: um dos projetos de Steven Spielberg é transformar em filme "Memórias de uma Gueixa", livro do também norte-americano Arthur Golden. [n. b.: lembramos do filme Memórias de uma gueixa, EUA, 2005]

Mas essa visão cheia de glamour não ajuda a revelar quem realmente são e o que fazem as gueixas. Fora do Japão é comum que elas sejam vistas como prostitutas de luxo, equívoco que explica ao mesmo tempo o preconceito e o romantismo que as cercam.

Ao contrário do que muitos imaginam, um cliente que paga pelos serviços de uma gueixa muitas vezes não recebe sexo em troca. E quando isso acontece, é uma decisão que cabe quase sempre à própria gueixa. Hoje, a maior parte desses clientes são homens mais velhos, que sabem apreciar as artes tradicionais do Japão (que incluem canto e dança), além do jogo teatral que envolve esse universo. "As gueixas são como atrizes", diz a escritora e editora britânica Lucy Moss, que viveu no Japão entre 1994 e 1999. "Elas vendem aos seus clientes o sonho de uma mulher perfeita, e fazem com que eles se sintam atraentes e importantes".

Para se tornar uma gueixa, são necessários vários anos de um rigoroso aprendizado que começa na adolescência, geralmente entre 13 e 15 anos -- antigamente, esse treinamento se iniciava já na infância. Até a 2ª Guerra Mundial, não era raro que as famílias pobres do Japão vendessem suas filhas para prostíbulos, para reduzir o número de bocas a alimentar em meio à miséria em que viviam. Mas se essas meninas fossem consideradas bonitas ou inteligentes, poderiam ter a chance de se tornarem gueixas.

"Elas são fundamentais na história cultural do Japão", afirma Lucy Moss. "As gueixas mantêm vivas as artes tradicionais do país, que não existem mais no dia-a-dia", concorda a socióloga japonesa Miho Naganuma, que trabalha no Museu de Imigração Japonesa de São Paulo. 

Entretenimento para a eliteConhecer uma gueixa, porém, é privilégio para poucos. Em geral, seus clientes são formados por grandes empresários, políticos de peso, membros da Yakuza (a máfia japonesa) e artistas famosos. E não basta ter muito dinheiro; para entrar nesse círculo seleto, é preciso ser apresentado por outro cliente mais antigo. "As gueixas oferecem entretenimento e arte para a elite japonesa.

Quando presidentes e diretores de grandes corporações desejam receber bem seus convidados, seus parceiros de negócios, é comum levá-los às casas de chá (ocha-ya)", conta Luiz Massahiro Hanada, ex-secretário-geral da Aliança Cultural Brasil-Japão.

Mas esse universo, que ainda hoje é cercado de mistério, pode estar em extinção. No início do século, havia cerca de 80 mil gueixas no Japão. Hoje, estima-se que sejam apenas dois mil. Ironicamente, a influência do Ocidente (que tanto fascínio tem pelas gueixas) é apontada como uma das causas do crescente desinteresse dos japoneses pelas suas antigas tradições.

Fonte: www.nihonsite.com / Autor: Ricardo Koiti Koshimizu (jornalista)

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Dialogozinho que retrata uma abordagem eficiente

Primeira vez na fisioterapia.
- Por favor, senhor Maurizio, pode entrar.
- Não precisa do senhor na frente do nome.
- Pensei que fosse mais velho. Pode deitar.
- Pensei também que você fosse mais velha. Você é a fisioterapeuta?
- Não, eu só faço estágio. Mas ela já esta vindo.
- Que pena. Escute, qual a possibilidade de você fechar a porta para ela não entrar?
- Ela me mandaria pra casa na hora.
- Se ela mandar, eu te levo. Combinado?
- Rsrsrs.

Se terminar com um sorriso assim, tem grandes chances de dar certo.

Baseado num relato do Mauritzio que me foi gentilmente indicado por alguém que adora instilar perversidades ao MCP.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Urbana a brejeira em 150 metros e umas caipirinhas

Corre. Mas corre bem rápido que vou alcançar.
Mas eu tô lesada... Você me deu caipirinha, e feijoada eu não resisto!
Se você chegar no mato antes de mim eu perdoo. Mas corre!
Tem sol forte, vou ficar suada. Não quero ficar suada.
Suada e molhada é melhor, desliza mais fácil. Te dou vantagem. Chega no mato antes de mim que você tá salva. Mas corre muito que se eu alcançar te faço na grama.

* * *

Ela correu o que podia mas ele alcançou. Fez tudo que era proibido, ainda parou algumas vezes para fotografar. Acabou, levantou e deixou-a refestelada na grama alta. Quando fechava a porta do carro ela chegou esbaforida. Correu muito mais pra não perder a carona do que antes.

:: 22.05.2012 :: Homenagem ao premiado D. Trevis

terça-feira, 22 de maio de 2012

Palestra "Blog x livro" no workshop "Ler, escrever e editar"- Sábado, 26 de maio em Curitiba

Pessoal: nossa palestra (do MCP) é às 10h50, mas o evento como um todo será bem legal. Uma ótima experiência pro pessoal de Curitiba e região. Encontramos vocês no Solar do Rosário sábado de manhã.

Para ver a imagem ampliada: 1) clique com o botão esquerdo do mouse em cima dela; ela vai aparecer destacada no meio da página; 2) clique com o botão direito do mouse e selecione "Exibir imagem"; 3) clique com a "lupa" em cima da imagem.

terça-feira, 8 de maio de 2012

Procura-se

Uma leitora assídua, ciente da não reconhecida audiência deste puteiro blog, pediu que publicássemos o anúncio abaixo. Ela está realmente à procura. Só atendemos por se tratar de leitora fiel, pois o MCP não é classifisex. Interessados (ou interessadas: não custa tentar) devem se candidatar nos comentários.

Procura-se amante virtual que fique online o maior tempo possível. Que mostre o instrumento de trabalho somente se for solicitado. Discreto. Que saiba conversar diversos assuntos. Necessário ser um amante à moda antiga, que mesmo à distância seja gentil e criativo, paciente e divertido, sabendo mentir o suficiente para ter crédito e fantasioso o bastante para que suas abobrinhas virtuais se perpetuem durante dias na mente da CONTRATANTE. Necessário o envio de mensagens, músicas, fotos e poemas, A escolha será efetuada a partir das declarações convincentes. Os pré-selecionados responderão a um questionário online com perguntas sobre assuntos gerais, relacionamento, anatomia, preferências noturnas. Aquele que fizer o coração e o sininho baterem mais fortes será o escolhido. O CONTRATADO tem que estar ciente de que há possibilidade de viagens, portanto que seja, pelo menos, parcialmente disponível. Fetiches e taras são bem aceitos.

Inscrições nos comentários deste post.

Obs.: A foto "instagrâmica" é ilustrativa. Trata-se de uma bela MCPmate. Mas confere com o material da CONTRATANTE.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Era neném, não tinha talco, mamãe passou açúcar em mim*

Começo dos anos 80. A Vila Pinto era boca quente. Minha mãe era vapor e meu pai, braço direito do patrão e “químico experimental”. Eu lá pelos dez meses, cheio de assaduras — Curitiba não é brincadeira, não dá pra criança andar pelada pela casa, é frio de verdade — e nada de talquinho para proteger minha pele delicada da umidade. Aliás, aquele barraco era puro mofo.

A farmácia mais próxima ficava a três quilômetros. E não é que, na intuição, às vezes eles acertavam as coisas? A mistureba era tanta, que minha mãezinha não viu mal em sapecar aquele pó malhado nas dobrinhas assadas e cheias de brotoejas do bebê. Aparentemente nunca fez mal, e não lembro de ter me tornado uma criança hiperativa. Naquela área não tinha dessas frescuras.

Estudei no colégio Tiradentes e meu uniforme era kichute sem meia e calça azul de listras brancas. Meu hobbie era tacar pedras em vidraças de prédios abandonados. Cresci e mudei a vocação do negócio familiar para panificação — da farinha à farinha. Meu pão bundinha faz sucesso em toda a vila.

:: 03.05.2012 :: *Trecho emblemático de música do soulman brasileiro Wilson Simonal

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Acontece com quem chega de fininho

Reunião de trabalho tensa, densa. Horas debatendo assuntos que patinavam, o chefe às vezes ameaçador, às vezes distraído. O tempo demora passar. Tomo água, bastante, para me manter acordado. Não me sujeitei ao vício do café, mas isso tem consequências.

O almoço não caiu bem, o intervalo foi curto e comi rápido, e continua a tortura. Sinto movimentos na barriga. E o chefe polidamente descasca uma descompostura para toda a equipe. Minha bexiga me mata depois de mais um copo d'água.

Meio da tarde, quando o ritmo diminui e o chefe atende um telefonema, escapo para o banheiro. Dou aquela geral, inclusive sob as portas: estou sozinho. Viro para o mictório, deságuo e, com o relaxamento, solto um peido tão longo que atinge três notas musicais.

Percebo um movimento atrás. Batata que o chefe está na pia contendo uma reação ao meu solo. Não consigo segurar: "Acontece com quem é muito discreto". Ele não entende e replica: "Você é MUITO discreto!"

Volto para a sala, ele me segue e encerra a reunião em minutos. Nunca mais se falou no assunto.

:: 25.04.2012 ::

terça-feira, 17 de abril de 2012

Alta tensão

O camarada Diego Jacob Dick é da turma de Belém e já contribuiu no MCP. Ele dá umas sumidas, mas sempre aparece por aqui. Preparou este continho no formato que a gente (leitoras e escritor) aprecia, com aquele toque lupciniano de "esses moços, pobres moços..."

Uma noite torridamente fria a qual apenas a volúpia sexual vale de algo. O marido segura as mãos da amada entre as suas, com toda gentileza possível, mas muito seguro de si para dizer:
- Amor se tu quiseres fazer o fio terra hoje, por favor lixe as unhas antes.

Ele respirou aliviado quando ela retirou suas mãos e iniciou o processo de tratamento das unhas. "Dos males o menor", pensa.

Minutos depois ela volta com apenas três unhas lixadas. Sagaz, como toda mulher, percebe a curiosidade do cônjuge e explica:
- Comigo o negócio é trifásico. Então vira logo.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

A história de uma noite em quatro frases

Este é do sumido, mas ainda presente -- e talentoso pra coisas de "saliença"--, Vitor Hugo. Dá-lhe Vitão! Menos trabalho é mais produção.

- Minha casa não é por aqui.
- ...
- Tá, nós vamos entrar, mas só para assistir televisão.
- ...
- Desliga essa televisão.
- ...
- Não acredito que a gente fez tudo isso e você ainda está de meia - com a voz ainda trêmula.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Viúva Negra

Conhecemos o blog da Renata Madureira (Brasília - DF) por indicação. Tem um tom confessional e despretensioso. O continho que trazemos a vocês tem bem o clima daquela parte "Para mulheres inteligentes" do livro MCP.

Após a cerimônia, cheia de seriedade, explicava que casamento na igreja católica era para sempre. A sogra pensou um pouco e respondeu:
- E se não der certo, não se separam?
- Bom, na minha igreja é para sempre, não existe separação, é até que a morte nos separe. Então se não der certo sinto dizer que terei que matá-lo.

Agora que o casamento já era, tinha que suportar os familiares e as perguntas dos desavisados. E o fulano, porque não veio? Era um sacrifício ir a qualquer reunião familiar nesses dias, pois alguém sempre vinha lhe perguntar sobre o marido. E ela não sabia o que dizer, estava cansada de todas as explicações, as pessoas queriam entender, saber os detalhes. Como pode uma moça católica largar o marido?

Cansada de tantas explicações pensou que mais fácil seria se fosse viúva. As pessoas ficam com pena e acabam evitando estender o assunto.

Então, no casamento seguinte soltou de repente para o tio cheio de boas intenções:
- Morreu!
- Como? Morreu!
- Ah, ela disse, ele teve uma enorme diarréia e correu para o vaso sanitário. Ao se sentar, o vaso de repente explodiu! Acho que foi terrorismo. Colocaram uma bomba bem no meu banheiro! Foi merda pra todo lado, difícil foi distinguir o que era ele do que era excremento.

O tio ficou chocado. Olhou pra ela com pena, pensou que devia ter perdido o juízo. Pobre da sobrinha sem marido, o que seria dela.

Logo a prima abelhuda foi se chegando.
- Cadê o fulano? Deixou você vir sozinha?
- Morreu!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

MCP no jornal Relevo de março de 2012

Tivemos a satisfação de ser convidados pelo Daniel Zanella, editor do impresso mensal de literatura Relevo, a participar da edição de março do periódico, ao lado de feras como Joca Reiners Terron e Paulão de Carvalho (parece combinado). Vocês já devem ter lido por aqui, mas vale uma leitura no "papel".

sexta-feira, 30 de março de 2012

Até que provem o contrário, ele comeu todas

Presente de aniversário que ganhei da Patrícia. Veio dar mais cor (fatal blonde) ao MCP. Obrigado!

Juarez não teve sorte com o nome, apresentava-se com alguma dificuldade para as garotas. Até descobrir que nome não importava para a maioria delas, mesmo porque, no dia seguinte ninguém se lembrava de nada.
- Nós transamos?
- Onde estou?

Vestia-se com certa irritação estendendo a calcinha e o sutiã para a extraviada. Seu sorriso sarcástico respondia.

E foi levando assim, cansado daquela ausência depois do sexo, mas o estoque de camisinhas ainda acabava com certa rapidez.

Até aquele dia.

Quando nem a chuva fina atrapalhou seus planos. No barzinho que os amigos escolheram chegou um tanto desanimado. Mas não foi o som de Jimi Hendrix que o animou. E na brincadeira de caçar, Juarez pela primeira vez foi caçado. Envolvido na silhueta à sua frente, não conseguiu desviar o olhar dos seios dançantes, fartos, pele branquinha. Imaginou o bico rosado. Ela se aproximou de mansinho, como uma leoa atrás da presa.

Sob os lençóis, sóbrio como nunca esteve, lamentou o sono profundo da Deusa. O estoque de camisinhas ficou intacto naquela noite. Mas o dia seguinte não foi tomado pelo vazio.
- Nós transamos, Juarez?

Estendeu a lingerie e a galega de pele macia compreendeu, respondendo com um beijo quase apaixonado. O segundo encontro aconteceu não tão logo quanto desejou. E desta vez ela lembraria mais do que seu nome...

Depois de tanta selvageria, algumas camisinhas decoravam o tapete.
- Nosso primeiro encontro foi tão orgástico como este?, perguntou curiosa, com um brilho intenso nos olhos.
- Igualmente delicioso! E desta vez nenhuma camisinha se rompeu.
- Hum, isso explica porque estou grávida de você, querido!

"Jamais diga uma mentira que não possa provar."
Millôr Fernandes

terça-feira, 27 de março de 2012

A ré assassina do Polaco - mais ou menos assim

Foto de Miriam C. de Souza.

A brasília só andava abastecida de álcool. Mais precisamente: o motorista abastecido. Nunca atropelou ninguém, embora em certas noites de fuzarca atravessasse o setor exclusivo dos ônibus do terminal Guadalupe em alta velocidade, soltando faíscas pra todo lado quando a lata do assoalho roçava o chão pavimentado de granito (“paralelepípedo”, como diz o curitibano). Enquanto isso, na terra em que bandidos pregam o politicamente correto, a ordem é endurecer a lei seca.

:: 27.03.2012 :: 

quinta-feira, 22 de março de 2012

A ré assassina do Polaco - parte 2

Um dia o Polaco estava com a inconfundível brasília amarela no sinaleiro num cruzamento com subida acentuada e deu o problema no câmbio. O pessoal ficou atrás buzinando, ele se afobou, achou que tinha engatado a primeira e acelerou. Estava na ré. O carro desceu com tudo num sedã novinho logo atrás (provavelmente buzinando de monte). Com o susto da batida ele engatou a primeira. Não por malandragem, mas por desespero, devido à total penúria financeira, seguiu em frente o mais rápido que podia e nem olhou no retrovisor para registrar o problema (sim, existe um dilema ético nesta história).

Coincidência foi um amigo nosso, que sabia do caso da "ré assassina", chegar no escritório uns dias depois e encontrar um colega transtornado, contando o motivo para todo mundo ouvir: "Um dia desses o carro da minha mulher estava atrás do meu na garagem. Na pressa saí com o dela mesmo. Ela tinha que ir ao shopping e foi com o meu. Quando cheguei em casa e vi a frente detonada, ela me veio com o papo de que um louco numa brasília deu uma ré no sinaleiro, bateu com tudo e fugiu. É o que me faltava! Estou só esperando o coitado em que a barbeira encheu a traseira aparecer e me cobrar o conserto ".

Por amizade, nosso amigo guardou o segredo. Mas chegou à conclusão, naquele momento, que muitas vezes as mulheres, que invariavelmente dirigem com mais cuidado, são injustiçadas quando o assunto é trânsito.

:: 01.03.2012 ::

segunda-feira, 19 de março de 2012

A ré assassina do Polaco - parte 1

O Polaco foi o último da turma a tirar carteira de motorista. Esperou até os 25 anos. Eu cheguei a pensar que ele tinha um trauma ou coisa parecida, pois costumávamos agendar a autoescola e o exame antes mesmo de fazer 18, pra chegar à nova idade já com "o poder".

Então ele comprou uma brasília amarela (muito antes da moda lançada pelos Mamonas). Pense num carro feio e estourado. Mas o importante é a mobilidade e tudo que ela proporciona, certo?

A brasília trouxe benefícios para a vida sentimental do Polaco. Lembro do dia em que eu voltava de uma festa num sábado pelas duas da madruga e testemunhei uma cena em frente ao restaurante universitário, onde rolavam uns bailões alternativos. A estrela desses bailes era uma mulata de um metro e oitenta ornamentada com longos dreads, linda e imponente. Às vezes as portas da brasília não abriam, e o Polaco (e quem o acompanhasse) acessava o carro pela porta do que seria (mas não é, numa brasília) o porta-malas. Pois o que testemunhei foi o Polaco segurando a tampa traseira e a mulata de pernas longilíneas engatinhando carro adentro. Me limitei a buzinar e a gritar “Aí, Polaco!”

Para complicar a situação, a brasília tinha problemas no engate da primeira e da ré, que ficavam bem próximas no câmbio. Às vezes ele perdia um tempo no sinaleiro se batendo entre uma e outra, com o pessoal buzinando atrás. Isso deixa qualquer um estressado.

(continua...)

sexta-feira, 9 de março de 2012

.
Um violão esquecido no canto do quarto
Uma motocicleta empoeirada no fundo da garagem
Uma mulher enclausurada num convento
São todos seres tristes
.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Luto pelas namoradas de papel

Tem coisa que só tem graça fazer quando não se tem idade. Na nossa época era entrar no cinema nos filmes pornôs (ou maiores de 18 anos) e comprar revista de mulher pelada. Tinha todo um ritual para chegar na banca, ficar ali sem saber o que dizer pro jornaleiro, escolher a revista meio que sem olhar direito, colocar debaixo da camisa e ir pra casa. Passar pela sala disfarçando aquele volume esquisito e ir direto para o quarto ou banheiro.

Eram inesquecíveis nossas namoradas de papel. Cada um desenvolvia uma técnica, porque não era fácil segurar a revista com uma mão e virar as páginas enquanto a outra trabalhava. Eram paixões insanas e sem limites. Com elas não tinha esse negócio de tempestades emocionais, discussões ou ciúmes. Quando alguém enjoava da revista, sem problema emprestava para os amigos. E o amigo ficava feliz ao receber, mesmo com as páginas grudadas.

Com a playboy era diferente porque “tem matérias interessantes, não é por causa das fotos”. A gente já estava no colégio e tomava a liberdade de folhear quase que publicamente. A playboy pulava de mão em mão nos intervalos das aulas, entre risinhos das meninas (algumas até se encorajavam a folhear). Constrangedor mesmo era quando chegava ao Juninho, nosso colega mais afeminado quase que saindo do armário. Ele não deixava de folhear a revista, mas dava para perceber o interesse forçado e um certo nojo nas pontas dos dedos.

Hoje as revistas de mulher pelada ou de sacanagem perderam o sentido. É só navegar na internet e estão todas lá, mostrando e fazendo tudo que qualquer mente pervertida imaginar. Nunca mais teremos a inocência e o romance das namoradas de papel.

:: 05.05.2008 ::

sexta-feira, 2 de março de 2012

Trabalho secreto

Da minha amiga e "mainha" Vampira Dea

Eles trabalhavam juntos há algum tempo, ela via nele o exemplo do homem que não queria de jeito nenhum, comprometido, lindo demais, galinha demais. Não era homem pra ela, recatada e cheia de pudores. Um dia em um passeio comemorativo da empresa estavam na praia, ela resolveu dar um mergulho, quando voltou à tona deu de cara com ele. Sem nenhum escrúpulo ele disse "Deixa eu ver".

Ela como que hipnotizada baixou a calcinha do biquíni, ele só fez esticar a mão e com cara de paisagem pra ninguém notar, deslizou os dedos de leve o que a fez tremer, corar e gemer um miadinho baixo. Aí ele olhou pra ela e disse: "Tem umas pedras ali, venha". Sem parar pra pensar, em uma piscininha natural, se pegaram como loucos num breve espaço de tempo, que a fez ficar viciada dali por diante, qualquer lugar em que estivessem, em qualquer circunstância, era motivo para trasarem. Banheiro, mesa do chefe atrás da porta, bastava ele olhar e ela dava um jeito de ficar pronta, muitas vezes na posição, de pé e de costas, apoiada em alguma porta, estante, parede, pernas afastadas, úmida, ansiosa já que não dispunham de tempo e a graça dos dois era o perigo, sempre esperando ser devorada por ele que só tinha o trabalho de levantar a saia e puxar um pouco a calcinha pro lado. Na verdade ele estava tão viciado quanto ela, um dia na pressa esqueceu de tomar banho, e foi encontrar a noiva. Mulher conhece e logo sentiu o cheiro da outra, enxotou ele pra nunca mais.

Pediu a colega em namoro mas ela não quis saber dele assim tão descompromissado.

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Malabarismo germinal

Tudo remete ao dia em que os pais do Zé o levaram a um parque mambembe. Ele tinha quatro anos e se encantou com o carrossel de cavalos, carrinhos conversíveis e motocas. O Zezinho escolheu a motoca, mas depois que o brinquedo rodou uns segundos, pulou para o conversível vermelho. Ao sair do carrinho pra voltar para a moto, o operador parou o brinquedo e deu uma mijada. Questões de segurança.

Pode parecer justificativa, mas sempre aconteceu assim com ele. Por exemplo, se andava desempregado, invariavelmente apareciam duas propostas tentadoras. Com o assunto trabalho é difícil conciliar, mas quando se trata de namoro...

Acontece que no baile em que o Zé conheceu a ex-mulher, acabou tendo com uma deusa, estudante de economia. Era dessas mulheres altas que param um salão quando entram. Obviamente ficou dividido e começou a namorar as duas.

A deusa morava com os pais em Piraquara, uns trinta quilômetros da casa do Zé. A que virou esposa, por sua vez, morava sozinha e perto.

A deusa tinha personalidade forte e era meio despirocada, mania de beijar na boca em restaurante vegetariano e de colocar o pernão em cima de mesa de barzinho. E, pior, começou a fazer surpresa (motivo absolutamente passional) de manhãzinha na casa do Zé antes das aulas. Evidente que a que morava sozinha dormia com ele de vez em quando. Complicou tudo. E tinham as intermináveis viagens a Piraquara, e o perigo de dirigir sonolento noite alta na volta.

Voltando ao carrossel, na cabeça do guri o episódio ficou mal resolvido: "Qual o problema se estavam desocupados?" Mas não teve jeito, o Zé teve que escolher, e o resto da história você conhece. Só não sabe que a tal deusa hoje é doutora em economia em alguma federal do norte do País.

::28.02.2012 ::

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Balada de uma amante iniciante

Nanda caiu pelo Ale desde o comecinho da faculdade. Era o mais charmoso dos caras, e tudo indicava que seria bem-sucedido. O problema é que já no primeiro churrasco da turma levou a namorada, linda e interessante, casalzinho perfeito.

Ao mesmo tempo o Ale dava umas investidas na Nanda, que era das mais atraentes da turma. Ela não pensou duas vezes e virou vértice de triângulo amoroso como a vida toda censurou. Mas era bom estar com um homem tão carinhoso, inteligente, bom de cama, divertido... e como eram excitantes os beijos escondidos e as idas ao motel! Às poucas amigas que sabiam do romance clandestino ela dizia que era melhor ficar com homem comprometido, porque não pegava no pé, podia levar a vida como quisesse. Mas lá no fundo alimentava a esperança de que ele um dia fosse dela. Porque a Nanda era só do Ale.

Um dia aconteceu. Alguns meses antes da formatura o namoro do Ale acabou. No íntimo Nanda ficou radiante, mas não expressou e continuou discretamente ao lado dele. Dois meses depois o Ale comentou que havia conhecido uma garota com história de vida e gostos muito parecidos, que tinha um filhinho com quem ele se identificou de cara. No último churras antes da formatura ele apresentou a nova namorada a todos, à Nanda inclusive. Era de fato uma relação ainda mais bonita que a anterior.

Passada a colação de grau, o Ale anunciou casamento. A Nanda cuidou com dedicação da despedida de solteiro. Fez questão de fazer com que ele se sentisse um deus, entregou-se de corpo e alma. No dia seguinte, na igreja, seu choro soava um pouco diferente das lágrimas emocionadas das demais, mas deu para disfarçar. Ao menos Nanda sabia que na volta da lua de mel teria sua recompensa.


:: 02.06.2008 ::

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Sorte azarada de drogado

Por questões profissionais e afetivas resolvi parar com tudo. Aliás, maneirar bastante na bebida e cortar a zero os "acompanhamentos". Pelo menos dar um tempo.

Semana passada de férias na Ilha do Mel, pousadinha ajeitada, lá fora a maior chuva. Eu estava no quarto sossegado, vendo o tempo passar, ar condicionado bombando... bateu saudade dos acompanhamentos.

Observava o quarto minuciosamente e vi um quadro torto. Fui colocar no lugar e adivinha o que despencou quase em cima de mim? Um invólucro com duas notas de 50 e dez figurinhas, acondicionadas uma a uma em papel alumínio. Parece que deus às vezes me testa.

Primeiro vieram duas dúvidas: será que a coisa é de qualidade? tem prazo de validade? Depois pensei no cara que perdeu, até hoje procurando ou tentando lembrar onde escondeu a coisa. Deve ser coisa boa mesmo.

:: 01.02.2012 ::

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Campeonato de

A sala de aula parecia aquelas de pré-vestibular, perto de cem alunos e carteiras de braço, mas estávamos no primeiro do ensino médio. Escola grande tinha dessas coisas. Sentávamos no fundão, como era de se esperar de um bando de semimarginais burgueses.

Num dia de tédio alguém teve a ideia. Aliás, um magrão começou a fazer aquilo em homenagem à gostosa da sala, que sentava perto da gente e estava em um dia em que a histeria lhe transparecia na pele. Ele tirou pra fora sem a menor cerimônia e começou a bater uma. Aí sim alguém inventou de fazer o campeonato. Ganhava quem chegasse primeiro. Não valia revista de sacanagem. Tudo discreto o suficiente para que o professor ou a turminha da frente não notassem, mas escancarado o bastante para as galinhas da sala verem.

Assim, nas aulas chatas o pessoal mandava ver em campeonatos de bronha. Nunca nenhum dos participantes recebeu punição. Tudo só acabou no dia em que nossas coleguinhas do fundão exageraram na torcida e foram convidadas a se retirar da sala.

:: 27.01.2012 ::

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Porque éramos belos bêbados cometas*

Na época o Siri Bar era, como o nome sugere, um bar. Na beira do calçadão da praia e bem rústico, com uns bancos e mesas de cimento na frente. Às vezes a gente ficava ali bebendo e outras ficávamos somente ali. Numa praia em Santa Catarina ver o movimento é quase como respirar, há muito que se ver.

Época em que nos sentíamos indestrutíveis. Quem olhasse atentamente para nosso jeito, nossa pose, percebia isso. E as conversas... acreditávamos ter todas as respostas e que poderíamos salvar o mundo. Era só uma questão de querer.

Estávamos ali sentados, concentrados num tipo de filosofia que hoje me parece inatingível, quando um rojão pipocou no chão a menos de dois metros. O susto foi enorme. Na janela do carro de luxo parado atrás deparamos o paspalho que havia soltado o rojão nos encarando desafiador. Após os inevitáveis xingamentos, levantamos com peito empinado em direção ao carro. O paspalho nos respondeu com a pergunta "Tomar no cu de quem?" enquanto apontava a pistola para nosso grupo. Rimos nervosos e dispersamos entre comentários do tipo "nada, nada" e "foi brincadeira". Às vezes nem passa por sua cabeça o ódio que sentem de você. Fique atento.

Hoje o Siri Bar é um restaurante elegante de frutos do mar, com preços que seriam impraticáveis para qualquer um do nosso bando na época.

:: 03.01.2012 :: *Alusão à música "Nós", do Barão Vermelho, que poderia ser incidental no contexto