sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Campeonato de

A sala de aula parecia aquelas de pré-vestibular, perto de cem alunos e carteiras de braço, mas estávamos no primeiro do ensino médio. Escola grande tinha dessas coisas. Sentávamos no fundão, como era de se esperar de um bando de semimarginais burgueses.

Num dia de tédio alguém teve a ideia. Aliás, um magrão começou a fazer aquilo em homenagem à gostosa da sala, que sentava perto da gente e estava em um dia em que a histeria lhe transparecia na pele. Ele tirou pra fora sem a menor cerimônia e começou a bater uma. Aí sim alguém inventou de fazer o campeonato. Ganhava quem chegasse primeiro. Não valia revista de sacanagem. Tudo discreto o suficiente para que o professor ou a turminha da frente não notassem, mas escancarado o bastante para as galinhas da sala verem.

Assim, nas aulas chatas o pessoal mandava ver em campeonatos de bronha. Nunca nenhum dos participantes recebeu punição. Tudo só acabou no dia em que nossas coleguinhas do fundão exageraram na torcida e foram convidadas a se retirar da sala.

:: 27.01.2012 ::

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Porque éramos belos bêbados cometas*

Na época o Siri Bar era, como o nome sugere, um bar. Na beira do calçadão da praia e bem rústico, com uns bancos e mesas de cimento na frente. Às vezes a gente ficava ali bebendo e outras ficávamos somente ali. Numa praia em Santa Catarina ver o movimento é quase como respirar, há muito que se ver.

Época em que nos sentíamos indestrutíveis. Quem olhasse atentamente para nosso jeito, nossa pose, percebia isso. E as conversas... acreditávamos ter todas as respostas e que poderíamos salvar o mundo. Era só uma questão de querer.

Estávamos ali sentados, concentrados num tipo de filosofia que hoje me parece inatingível, quando um rojão pipocou no chão a menos de dois metros. O susto foi enorme. Na janela do carro de luxo parado atrás deparamos o paspalho que havia soltado o rojão nos encarando desafiador. Após os inevitáveis xingamentos, levantamos com peito empinado em direção ao carro. O paspalho nos respondeu com a pergunta "Tomar no cu de quem?" enquanto apontava a pistola para nosso grupo. Rimos nervosos e dispersamos entre comentários do tipo "nada, nada" e "foi brincadeira". Às vezes nem passa por sua cabeça o ódio que sentem de você. Fique atento.

Hoje o Siri Bar é um restaurante elegante de frutos do mar, com preços que seriam impraticáveis para qualquer um do nosso bando na época.

:: 03.01.2012 :: *Alusão à música "Nós", do Barão Vermelho, que poderia ser incidental no contexto