quinta-feira, 3 de maio de 2012

Era neném, não tinha talco, mamãe passou açúcar em mim*

Começo dos anos 80. A Vila Pinto era boca quente. Minha mãe era vapor e meu pai, braço direito do patrão e “químico experimental”. Eu lá pelos dez meses, cheio de assaduras — Curitiba não é brincadeira, não dá pra criança andar pelada pela casa, é frio de verdade — e nada de talquinho para proteger minha pele delicada da umidade. Aliás, aquele barraco era puro mofo.

A farmácia mais próxima ficava a três quilômetros. E não é que, na intuição, às vezes eles acertavam as coisas? A mistureba era tanta, que minha mãezinha não viu mal em sapecar aquele pó malhado nas dobrinhas assadas e cheias de brotoejas do bebê. Aparentemente nunca fez mal, e não lembro de ter me tornado uma criança hiperativa. Naquela área não tinha dessas frescuras.

Estudei no colégio Tiradentes e meu uniforme era kichute sem meia e calça azul de listras brancas. Meu hobbie era tacar pedras em vidraças de prédios abandonados. Cresci e mudei a vocação do negócio familiar para panificação — da farinha à farinha. Meu pão bundinha faz sucesso em toda a vila.

:: 03.05.2012 :: *Trecho emblemático de música do soulman brasileiro Wilson Simonal

3 comentários:

Gustavo Martins disse...

Confessamos nossa opinião de que achamos a melodia da música muito cafona.

Vampira Dea disse...

Ah! Cafona sim,mas gostosinha como quase tudo que é doce.
Só acho estranho ele ser tao tranquilo, pq eventualmente o pintinho deve ter bicado um pouquinho,dizem por aí que o efeito é rápido assim.
O pão deve fazer sucesso.
E uma palavra citada no texto me faz sorrir sempre: Kichute, ai que saudades, me sentia super-poderosa

Juliana Barreto disse...

EXCELENTE BLOG..adorei a ideia de minicontos.
Parabéns!