quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Se eu tivesse uma dessas...

Tem um comentário recorrente dirigido a quem, como eu, tem moto grande. Em particular, se for esportiva.

Situação motoboy:
- Se eu tivesse uma dessas, eu não durava uma semana.
- Ah, tá. Quer dizer que você é um cara super corajoso e arrojado e eu sou bundão.

Situação indigente:
- Se eu tivesse uma dessas, eu morria em uma semana.
- Tá bom, flanelinha. Se apresse nessas três pedrinhas de crack que estão no seu bolso, que não passa nem de hoje à noite.

:: 09.10.2013 ::

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Como ser amigo de um homem lindo

Uma paródia aberta do aclamado texto de T. Bernardi, enviado por um leitor anônimo, como contribuição. Ele é gaúcho, formado em propaganda e fez pós graduação em estética. Usa tamancos e tem vários cursos especializados em depilação íntima, tintura, cabeleireiro, dança de salão e decoração de interiores.

Acho que de todos os exemplos, o dos pentelhos é o mais cruel. Ele tem os pentelhos escuros, lisos, brilhantes. Quando sangro, ficam meio avermelhados e as pessoas a param na rua pra perguntar "que cor maravilhosa é essa?" e ele responde "meu cachecol de rola...". O pentelho é tão bom, mas tão bom, que pra dar um "tchans" ele faz permanente. E o resto dos mortais misturando dezenas de fórmulas importadas pra conseguir sair de casa sem parecer que está há séculos sem tomar banho, acumulando ceroto.

Às vezes ele diz "espera eu me arrumar, não posso ir assim" e eu fico olhando e pensando que nem em oito horas num salão de beleza eu alcançaria a perfeição que ele atinge apenas de regata, shortinho, havaianas e hipoglós no cu. Ter como melhor amigo um homem lindo é receber todos os dias uma socada na boca. Você com fome, a bile te queimando por dentro... e ele vem, com vaselina, e termina de te rasgar. E você sorri "tá, eu espero...".

Em seu currículo existencial tem sempre um amigo que sumiu. Tenho dó. É preciso muita coragem, força e uma dose de masoquismo pra estar ao lado de tamanha beleza. Ele diz "poxa, o Rômulo vivia aqui, de repente... sumiu". E eu penso "antes de desistir o pobre Rômulo deve ter tentado vaselina, xilocaína, anestesia, sutura, pompoarismo, exercícios... quando viu que não tinha jeito, o jeito foi fazer de conta que você não existe.".

Alguma mágica interestelar combinada com alguma natureza esplêndida fazem, diariamente, com que todos os salgadinhos escrotos, sanduíches macabros e refrigerantes grotescos que ele consome não grudem na parede de seu toba. Quando ele ajeita a sunguinha na praia, pra deitar, eu me divirto com os bofes em volta, todos com a educada exclamação "bichona louca" tatuada na íris.

Numa fase meio deprimida (sim, homens lindos também ficam #chatiados), ele resolveu que só sairia na rua com a boca muito pintada de vermelho. Os pentelhos levemente cacheados pelo permanente eram rococós que emolduravam a sua verga enorme, bem torneada e, agora, na versão cor do pecado. E sempre alguém, numa roda de amigos, pergunta "essa benga volumosa é sua?" e ele sem graça responde "é, nasci assim...". Ele sempre se desculpando por ser lindo e os outros sempre fantasiando que sua beleza não é real, numa tentativa de desculpá-lo. "E esses pentelhos longos e enormes e muitos...". "São meus...desculpa".

Mas muito mais sofrido do que estar com ele é não estar com ele. Tem sempre um desgraçado que me vê de longe e atravessa a rua correndo. "Lindo, quanto tempo!!! Queria MESMO MUITO falar com você". E eu já sei que é pra perguntar se meu enormemente dotado amigo está finalmente solteiro. E ficamos então alguns minutos num papo super profundo. Lindo, né?

Nossa, muito. Bem lindo mesmo. Porra, lindo pacas. É, lindo demais. Lindopacarai. E então eles começam a gemer. E eu já nem ligo mais, no fundo bato uma enquanto escuto.

Certa feita fui convidado para um show do Caetano Veloso. Me arrumei todo, tadinho. Me depilei todo, tadinho. Comprei até sapatinhos novos. Tadinho. O cara até gostava de mim, até me achava bonito, mas eu vi o momento exato em que ele, ao notar meu amigo numa calça preta e apertada, dividiu o universo entre antes e depois. E eu ficaria pra sempre no antes.

Estar ao lado do meu estonteante melhor amigo é assinar pra sempre um pacto com o prêmio de consolação. É escolher pra sempre ser o boy delícia ao lado, o amigo do, o outro. É estar tão longe do centro das atenções que preciso de uma lupa para vislumbrar minha piroquinha. É ensebar a franja de tanto que dói ser invisível.

Em nome de uma vida mais digna, eu poderia, assim como fez Rômulo e uma boa gama de amigos mais frágeis, ter partido o cu. Mas o fato é que na madrugada de um voo para Londres, no qual eu (com o velho e já sabido e muito analisado pavor de aeronaves) me dopei com algumas tarjas pretas, o adônis universal em forma de amigo teve por mim uma paciência jamais vista nem nos melhores dias de mamãe. Ele acordou de duas em duas horas para ver como eu estava. E eu estava muito drogado mas pude acompanhar seu passinhos lindos pelo corredor, sua mão quente acariciando meu pinto, tudo pra checar se eu me comportava como um homem de trinta e quatro anos ou tinha virado uma bicha louca desvairada.

Em nome de uma vida menos humilhante, eu poderia ter dito "gato, fui, parti grandão, desejo que você e a sua fantástica benga sejam muito felizes lá na putaqueopariu" mas o fato é que o espetáculo em forma humana é o porra do meu melhor amigo. É quem me liga todos os dias pra saber como estou. É quem segura minha pica quando eu tenho ataque de viadagem. É quem esteve em minha casa em todos os meus términos de namoros, gripes, hemorróidas e confusões mentais.

O homem muito bonito sabe que, em sua maldita sina de perfeição solitária, só lhe resta ser tão legal, mas tão legal, que o legal seja ainda mais incrível que sua rola e seu tórax e sua batata da perna. Já ao homem "inteligentinho e engraçado", classificação que nos salva no colégio e segue nos salvando pelo resto da vida, cabe tirar o melhor proveito disso e transformar o resto em piada.